Marielle, a Saúde da Família e nós…

Visto assim, de relance, um assunto parece ter pouca coisa a ver com o outro. É até provável que Marielle Franco, como pessoa bem informada e do bem que era, fosse uma defensora dessa estratégia de saúde. Mas pouco sei sobre isso. Conheci Marielle, como talvez a maioria dos brasileiros, no dia seguinte em que foi barbaramente assassinada. O foco presente é a pobre cidade do Rio de Janeiro, ainda maravilhosa na paisagem, mas tenebrosa quanto a muitas coisas mais, por exemplo, na violência e na sanha corrupta de muitos de seus agentes políticos e membros da máquina pública. Eis que vejo na imprensa, quinze dias após Marielle ter sido eliminada, que nada menos do que 150 equipes de saúde da família da cidade do Rio já ficaram sem médicos, que estão se demitindo em massa. E diz mais a matéria:  “pacientes voltam à fila da emergência”. Procurada pela reportagem, a Prefeitura do Rio de Janeiro não respondeu sobre o pedido de demissão dos médicos, nem sobre o plano para novas contratações… Fila da emergência e nada a declarar: eis uma síntese da situação carioca…

A demissão dos médicos merece aprofundamento. Por que será que o fazem? Não estariam preparados técnica e humanamente para este tipo de atendimento? Recusariam as condições de trabalho que lhes são oferecidas? Prefeririam outro tipo de clientela? Não seriam devidamente valorizados pelos usuários ou pelas autoridades? Receberiam baixos salários? Temeriam a insegurança das periferias? Ou seria por tudo isso? O certo é que torna-se preciso aprofundar essas questões.

Mas o que a morte da vereadora do PSOL tem a ver com isso? Rigorosamente, nada. A questão é outra e está mais em cima. Trata-se, mais uma vez, da constatação do descalabro em que a Cidade do Rio foi jogada. Aquele governador de pés grandes e mãos ligeiras, o prefeito que nunca tem os pés em sua cidade, mas tem as mãos ocupadas em recolher dízimos… Isso não poderia dar em boa coisa, naturalmente. Mas façamos justiça: o problema é antigo e já teve outros nomes na berlinda, como Chagas Freitas, Moreira Franco, Leonel Brizola, Anthony Garotinho e Sra., César Maia, Eduardo Paes – e por aí vai…

Mas pensando bem, a morte da valorosa moça e a estrangulamento da Saúde da Família possuem causas em comum. Entre elas estão os preconceitos;  o repúdio ao novo e o apego ao passado; o uso da força contra o que não se compreende, entre outras questões, seja na política ou na saúde.

Que tristeza é o Brasil… Atenção Primária à Saúde e defesa de direitos humanos e de minorias são marcos civilizatórios em toda parte civilizada do mundo. Aqui, parece, estamos a um passo da barbárie e volta e meia cruzamos tal fronteira.

Pobre cidade, pobre país… Daqui do Planalto Central, por onde muitas dessas figuras lamentáveis circulam, enviadas que são pelos eleitores do Rio e do restante do Brasil, além da contribuição local também, é impossível não nos perguntarmos: nós seremos o Rio amanhã?

Veja a notícia: https://www.uol/noticias/especiais/os-medicos-jogam-a-toalha.htm

 

 

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