Bastam algumas horas à beira de um leito…

Cláudia Collucci, repórter especializada na área da saúde, jornalista séria cujas matérias acompanho há tempos, nos revela na FSP de 22 de maior de 2018 que a cada três minutos, mais de dois brasileiros morrem em hospitais por evento adverso. Ela nos relata o drama que viveu ao acompanhar seu pai, internado em um hospital de Ribeirão Preto, SP, presenciando uma série de falhas de procedimentos nos três dias em que ali ficou “internada” como acompanhante. Fico imaginando o quanto o mesmo que a jornalista presenciou acontece, não só em Ribeirão Preto, mas também no Rio, São Paulo, Brasília, em toda parte do Brasil e do mundo, enfim, todo dia, toda hora… Há soluções? Claro! Mas como disse Collucci: “bastam algumas horas na beira do leito para perceber que ainda há uma enorme distância entre a teoria e a prática”.

Uma parte de seu relato: “Bom dia, seu Carlos? Vamos tomar banho?, disse a enfermeira na manhã da última quarta (16) já retirando o lençol que cobria o paciente. Meu pai, aos 87 anos e se recuperando de um traumatismo craniano causado por uma queda, gritou no leito ao lado: O médico disse que ele não pode se mexer durante três dias!” E por aí vai.

Leia a matéria completa: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/2018/05/bastam-algumas-horas-a-beira-do-leito-para-observar-riscos-em-hospitais.shtml

O buraco da crise hospitalar brasileira é, na verdade, bem mais amplo. Maureen Lewis, uma ex economista do Banco Mundial que trabalhou no Brasil, lembra que a prevalência de eventos adversos em hospitais brasileiros, um sintoma da desorganização sistêmica vigente, produz entre 104 mil e 434 mil óbitos anuais associados a eventos adversos na assistência hospitalar, o que leva à necessidade de investir no controle de tais situações, para elevar a qualidade. E isso, naturalmente, custa muito caro, consumindo nos hospitais privados entre R$ 10,9 e R$ 15,6 bilhões anuais, não havendo dados disponíveis e comparáveis ​​para hospitais do SUS

Lembra ela, ainda, que os hospitais absorvem cerca de 70% do gasto total em saúde e que o típico hospital brasileiro é pequeno (menos do que 50 leitos), tem baixa complexidade e desempenho ineficiente, tanto em termos absolutos quanto relativos. A taxa média de ocupação hospitalar no SUS é de apenas 37% e nada menos que 30% dos pacientes hospitalizados poderiam ser tratados com menor nível de atenção. A reduzida taxa média de ocupação hospitalar indica que a disponibilidade de leitos no sistema público aumentaria de forma efetiva se a produtividade média dos leitos hospitalares melhorasse.

Edson Araujo, um economista brasileiro que trabalha no Banco Mundial, em Washington, aponta que na área hospitalar não são pequenas as dificuldades do SUS, existindo no Brasil uma verdadeira “deseconomia” de escala, quando se nota que a maioria dos hospitais são pequenos demais, o que impede que operem de forma eficiente e garantam qualidade aos que neles são atendidos. Além disso, ainda são despropositados os repasses federais para pagamento de hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária, particularmente naquelas específicas para doenças cardiovasculares. Ele estima que ganhos de eficiência poderiam advir de uma com melhor coordenação e integração do sistema hospitalar com a atenção primária, da ordem de até R$1.2 bilhão anuais.

Saiba mais…

http://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/04/Mesa-2-Maureen-Lewis2.pdf

http://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/04/Mesa-2-Edson-Araujo.pdf

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/melhor-eficiencia-pode-trazer-uma-economia-de-r-115-bilhoes-ao-sus.shtml?utm_source=folha&utm_medium=site&utm_campaign=topicos?cmpid=topicos

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