Fonte inesgotável de discussões, certamente ainda longe de um consenso, é a questão do alcance da universalidade do direito à saúde prometida pela Constituição de 1988. Numa interpretação mais generosa – ou otimista – isso significaria “oferecer tudo para todos”. Para os militantes mais renhidos do SUS não se pode abrir mão de tal prerrogativa cidadã, visto que no artigo 196 da Lei Magna está escrito, com todas as letras: a saúde é um direito de todos. E aí? No mínimo caberia indagar: isso foi possível em algum lugar do mundo, em algum tempo? Esta igualdade de direitos admite que alguns cidadãos acabam chegando primeiro ao pote, por serem mais bem informados e terem mais acesso físico e cultural aos serviços? Diante desta verdade praticamente universal não seria o caso de criar instrumentos de regulação do acesso que privilegiassem, de fato, os mais pobres e mais necessitados de maneira geral? Venho pensando e escrevendo sobre isso há muito tempo. Foi com grande satisfação que li na mídia as declarações de Marcos Bosi Ferraz, profissional que respeito muitíssimo, a respeito de tal questão. Não é questão de se ser de direita ou de esquerda. É o realismo que deve imperar em tal conversa. Ideologia é muito importante, mas os números costumam falar mais alto…
Marcos Bosi Ferraz, docente da área de Economia e Gestão em Saúde da Unifesp, em palestra sobre “As escolhas necessárias para o futuro”, realizada no último 15 de agosto (2018), no Congresso Nacional de Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, afirmou que a crise econômica que atingiu o Brasil nos últimos anos é muito grave e afetou também a área da saúde, principalmente no equilíbrio do SUS, dependente que é da evolução do PIB do país. Além disso, a necessidade em saúde vem crescendo, levando-se em consideração o envelhecimento da população. Para ele, “não tem sistema de saúde no mundo que possa oferecer tudo para todos, até mesmo por conta da evolução tecnológica”, e, além disso, “o cenário de saúde nos próximos anos continua sendo de déficit e de angústia”, o que leva à indicação de que será necessário escolher e priorizar as ações em saúde, ao invés de focalizar irrealisticamente aquele “tudo para todos”, generoso, porém inviável.
