Com a eleição do ex-militar (no espírito, com certeza, ainda o é…), muita gente está saindo do armário em termos de convicções políticas. Ou des-convicções, sei lá… Mas de certa forma espero que o que me traz aqui hoje não seja considerado também mais uma espécie de saída do armário. Mas a presente questão não é de política partidária, nem de eleições ou de sexualidade (a minha está bem resolvida desde sempre, graças a Deus…). Mas é igualmente polêmico trazê-la à luz, ainda mais de forma crítica, sem despertar ojerizas e preconceitos. Mas vamos ao ponto que interessa: falo das chamadas terapias alternativas ou, em linguagem mais moderna, integrativas e complementares (PIC), sobre as quais tenho sérias dúvidas.
Confesso: sempre achei um exagero aquelas crenças quase religiosas na homeopatia, nos florais, nos aromas… A turma que as defende ficou eufórica em março último, quando os pacientes do SUS passaram a ser “beneficiados” com 10 novidades em tal campo, as seguintes: apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais, as quais, adicionadas a outra já existentes então somaram 29 procedimentos oferecidos à população. “Precisamos continuar caminhando em direção à promoção da saúde em vez de cuidar apenas de quem fica doente”, ressaltou o ministro à época, Ricardo Barros, o mesmo que se notabilizou por afirmar que muitas pessoas recorriam ao SUS sem maiores necessidades e que tentou por todos os meios implantar a ideia dos “planos de saúde populares”.
O assunto se torna paroxístico quando se vê gente da saúde e mesmo políticos (sempre eles) a propagar a crença de que se deve ter, em cada casa e mesmo nas unidades de saúde. um canteirinho de ervas medicinais, capazes de fazer pelas pessoas aquilo que a medicina careta (e cara) não dá conta. No limite, já se sabe: para os pobres os chazinhos de quintal; para os mais ricos as drogarias comerciais e os fármacos que bem ou mal os livrarão de suas mazelas. O que ninguém esclarece é que para um determinado princípio ativo vegetal se transformar em medicamento ativo são necessários anos de pesquisa e outros tantos de desenvolvimento industrial.
Vejo agora na mídia (ver link ao final) que há quem ponha fé nas armas da razão contra estes verdadeiros “sistemas de crenças”: o Instituto Questão de Ciência, disposto até mesmo questionar o uso de verbas do SUS em tais terapias. O instituto já chega com as armas da razão apontadas contra a homeopatia, prova de que não teme uma luta inglória. A matéria da Folha de S. Paulo na qual me baseio, assinada por Marcelo Leite, jornalista especializado em ciência e ambiente, autor do livro “Ciência – Use com Cuidado”, faz referência ao médico (e ex-homeopata…) Edzard Ernst, da Universidade de Exeter (Reino Unido), que parece alguém disposto a atacar seu antigo credo com o zelo do iconoclasta. “A homeopatia está entre os piores exemplos da medicina baseada na fé”, escreveu Ernst num artigo de 2009 para o periódico The American Journal of Medicine, “que ganha o apoio estridente de celebridades e outros lobbies poderosos no lugar de um desejo genuíno e humilde de explorar os limites de nosso conhecimento usando o método científico”. Fala especialmente daquele princípio da “similitude”, que defende que a semelhança entre o efeito da doença e o de uma substância é que a recomenda como medicamento, além do efeito da diluição (quanto mais diluída, mais potente a droga). “Tanto pacientes como médicos têm direito à auto-ilusão” diz ele.
Num país como o Brasil tudo pode acontecer. Não nos esqueçamos que dinheiro oficial financiou aqui por anos a fio algo como fosfoetanolamina, droga totalmente inócua no câncer, sendo apoiada na Câmara dos Deputados por aquele que agora chega ao posto número um da República. Agora coloca ao alcance de todos coisas como apiterapia (picadas de abelha?), aromaterapia, cromoterapia, geoterapia, imposição de mãos e terapia de florais. Seja lá o que isso for.
Pobre país…
Saiba mais…
