Um Sistema de Saúde Cívico Militar? Não duvide…

Não escrevo a partir do nada… A ideia das “escolas cívico militares” já foi lançada pelo atual (des) governo, de tal forma que por um módico incentivo financeiro, estados e municípios poderão adaptar suas unidades de ensino à mesma. Paulo Freire? Nunca mais! Em seu lugar, Duque de Caxias e talvez Brilhante Ustra… Assim, em clima de distopia, inspirado pelo filme Bacurau, permito-me imaginar como seria o sistema de saúde inspirado na tal ideologia (digamos assim…) “cívica e militar”.

“Saúde é direito de todos”? Não vai ser bem assim. É preciso qualificar quem são “todos”, pois como se sabe, o dinheiro não dará para todo mundo. Tem que ter um alvo (ou “foco”, como se dizia em tempos antigos). Os cidadãos de bem, ou seja, àqueles que renunciarem a ideias socialistas em saúde, tais como a volta do Programa Mais Médicos, o apoio às minorias sexuais e culturais e a participação social no sistema, serão os primeiros contemplados no tal SSCM, com direito à carteira verde-e-amarela de acesso.

Municipalização da saúde, sim, mas só para as prefeituras dispostas e colaborar e que não sejam dirigidas por elementos associados ao binômio co-cô, formado por corruptos e comunistas.

Os hospitais e as demais unidades do sistema de saúde serão dirigidos por pessoal militar. Para as de baixo escalão, como Centros de Saúde, bastará um Cabo (sem necessidade nem mesmo de um jipe à disposição). As unidades de hierarquia mais alta terão dirigentes de patentes proporcionais, culminando com a nomeação de generais para os grandes hospitais federais do Rio de Janeiro.

O Conselho Nacional de Saúde terá nova composição, com a presença de generais de quatro estrelas, acompanhados de seu notório saber, além de representantes de denominações religiosas sintonizadas com o espírito cívico-militar.

O Hino Nacional e Bandeira Nacional (sempre com maiúsculas!) serão respectivamente entoado e hasteada cotidianamente na entrada de todas as unidades do SSCM, com a presença obrigatória de toda a guarnição local perfilada (fica proibido o uso da palavra “equipe”), feito o que o comando local lerá a ordem do dia, que deverá se encerrar com a frase: “saúde acima das ideologias, Brasil acima de tudo, Deus no comando”.

A requisição de materiais e as comunicações dentro do SSCM, inclusive o encaminhamento de pacientes a outros níveis, obedecerá a fluxos bem definidos, tendo origem no Cabo (ou Sargento, ou Tenente, ou Capitão – etc – comandante local) devendo ascender ao oficial imediatamente superior na hierarquia, não se admitindo atropelos de nenhuma espécie, por exemplo, de algum Capitão se antepondo à ordem de um General.

Nas quartas feiras e também nas sextas, durante o período da tarde, não haverá expediente nas unidades do SSCM, obedecendo à prática tradicional dos quarteis militares do Brasil, considerando que isso nunca tenha trazido qualquer tipo de prejuízo à nação – muito antes pelo contrário.

Haverá participação dos cidadãos na gestão do SSCM, através de caixinhas de sugestões a serem instaladas em cada unidade do sistema, mas tal concessão poderá ser suspensa caso comunistas e assemelhados insistirem em fazer críticas e desrespeitar a hierarquia. Haverá também um canal de denúncias em rede social, com foco nos elementos pertencentes à antipatriótica sigla co-cô.

O art. 196 da constituição deverá ser modificado, passando a vigorar com a seguinte redação:  “A saúde é direito de cidadãos de bem e dever relativo do Estado, garantido mediante medidas higiênicas e de controle, que visem a redução de comportamentos antissociais desaconselháveis, bem como o acesso às ações e serviços que for possível oferecer”.

O art. 199 deverá incluir a palavra “totalmente” como segue: “A assistência à saúde é totalmente livre à iniciativa privada”, cabendo ao Ministério da Economia regulamentar para que os cidadãos constituam fundos próprios de recursos para o custeio das ações correspondentes.

As instituições privadas poderão participar do SSCM, segundo diretrizes emanadas pelo Ministério da Economia, mediante contrato, tendo preferência entidades mais bem classificadas em um ranking de eficiência no retorno financeiro, segundo as normas do referido Ministério. Além, disso, a participação direta ou indireta de empresas de capital estrangeiro na assistência à saúde no País será estimulada, desde que sediadas em países amigos e não vinculados a ideologias indesejadas.

Estão duvidando?

Quem viver verá…

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Coincidência (ou não), nem bem eu havia finalizado este post, li nos jornais que o Ministério da Saúde cuida de criar uma carreira específica para gestores de serviços de saúde. Como toda obra humana, isso pode ser bom ou ser ruim. Pelo lado bom, um certo arejamento, ao retirar de cena algumas corporações que têm presença histórica na saúde, como é o caso dos médicos, dentistas e enfermeiros. Por outro lado, pode ser a porta que se abre para que militares, ou outros, possam assumir tais postos.

 

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