Mais um ano se passou na saúde do DF

Um ano se passou e o GDF, como é costume nos aniversários de governo, comemora seus feitos . Na saúde, sinceramente, não chego a dizer que os resultados são falsos, mas o que se mostra é uma série de números pouco expressivos. Pode ser até que traduzam bons resultados em algumas áreas, mas do ponto de vista de comunicação e, principalmente, de demonstração de alguma ação articulada e voltada para as reais necessidades da população, os números apresentados, frios como uma lápide, pouco ou nada dizem.  

A SES-DF orgulha-se, por exemplo, do total de cirurgias realizadas na rede pública, que aumentou 74%, ao mesmo tempo que a taxa de óbitos caiu 23%. É de se indagar: e daí? A questão fundamental está no tempo de espera e não no número de cirurgias ou de mortes. A quantidade pode até ter aumentado, mas isso nada diz sobre a qualidade do que está sendo feito e muito menos sobre a redução do sofrimento daquelas pessoas que, por exemplo, são portadoras de pedras na vesícula e chegam a espera dois anos para conseguir extraí-las. No meio do caminho uma colecistite aguda aparece e liquida a fatura, em detrimento do paciente.  Ou seja, a taxa de óbitos pode até ter caído, mas como ela se compara com os padrões internacionais ou mesmo de sistemas de saúde mais bem estruturados no país?

Apregoa ainda a Secretaria que o número de atendimentos na atenção primária chegou a 2,5 milhões, um aumento de 40%. Mais uma vez, resposta para uma pergunta errada – ou que não foi feita. Qual seria a cifra correta da necessidade de tais atendimentos? Usando uma formulação simplória, pode-se estimar que seria necessário no DF pelo menos três vezes isso. Não há como contar vantagem, portanto. Isso para não falar da omissão sobre a maneira como este atendimento se distribui no território, pois, ao que se sabe, há áreas totalmente descobertas, por falta de médicos e outros membros das equipes de saúde.

No caso do combate ao mosquito Aedes aegypti, tema muito caro à SES (que às vezes mais parece um órgão especializado no combate à dengue) informou-se que foram inspecionados mais de um milhão de imóveis. Como já comentamos aqui, esta operação cata-latinhas combinada com o fumacê é hoje considerada apenas protelatória, além onerosa. Mas mostra presença da autoridade, da mesma forma que aquelas viaturas de polícia estacionadas nas vias de maior afluxo, nos finais de tarde, com as luzes piscando freneticamente. Todo mundo vê e segundo creem as autoridades, também aplaude.

Mas, de toda forma, no ano passado, o DF  teve o maior número de casos notificados de dengue da história. O ano fechou com mais de 44 mil casos registrados e 62 mortes.

Para mostrar mais uma informação sensacional: avisam que a carga horária de 576 servidores também passou por mudanças e aumentou de 20 para 40 horas. Pergunta que não quer calar… E daí? Que resultados isso produziu?

Ora sejamos mais criativos….

Sei que já vai virando um mantra aqui no blog, mas uma vez vou ter que repetir uma lista de coisas essenciais na saúde pública de nossa cidade, mas para as quais este governo (e justiça seja feita, os anteriores também) não parecem estar “nem aí”. Aí vão mais algumas perguntas que se recusam ao silêncio.

  1. Qual é a real definição do modelo assistencial que se deseja para a saúde no DF? Pretende-se, de fato, o foco na atenção primária? E que ela seja de fato resolutiva e ordenadora do sistema de saúde?
  2. Especificamente na gestão de recursos financeiros, quis são as perspectivas e os limites da descentralização, se é que alguma forma disso vem sendo cogitada?
  3. Que tipo de instrumentos estão sendo desenvolvidos parasse estabelecer no sistema público de saúde do DF parâmetros como aferição de valor e qualidade de serviços, remuneração por performance e outras formas de valorização de desempenho das equipes de saúde?
  4. Da mesma forma que na gestão financeira, quis são as perspectivas e os limites cogitados para a descentralização e a racionalização de compras de medicamentos e outros insumos?
  5. Que tipo de acordo, com seus conteúdos e procedimentos, se pretende para a gestão de fluxos de pacientes entre o Distrito Federal e os municípios de seu Entorno?

Fala Okumoto!

Acesse também:

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/01/23/interna_cidadesdf,822824/secretaria-de-saude-divulga-resultados-alcancados-em-2019.shtml

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