Não, não vou falar de doenças sexualmente transmissíveis; nem de coronavírus, intoxicação alcoólica, gravidez indesejada ou traumatismos provocados pela ação da polícia ou de gangs carnavalescas. Nada disso. Vou recordar aqui, mais uma vez, algumas das verdadeiras dívidas históricas, que entra carnaval, acaba carnaval; entra década, sai década; entra governo, sai governo, persistem no cenário de nossa cidade. Falo de dívidas sanitárias, porque aqui o espaço (e a minha competência) são pequenos para abordar com algum siso tudo que precisa. Vamos a elas, que estão virando um verdadeira mantra aqui no blog. Mas é preciso insistir, por serem coisas essenciais na saúde pública de nossa cidade, para as quais este governo (e justiça seja feita, os anteriores também) não parecem estar “nem aí”.
Assim, seguem vão algumas perguntas que se recusam ao silêncio.
Excelências, qual é a real definição do modelo assistencial que se deseja para a saúde no DF? Pretende-se, de fato, o foco na atenção primária? E que ela seja de fato resolutiva e ordenadora do sistema de saúde? Quando é que vamos parar de aplicar esparadrapo e álcool iodado em feridas que são na realidade muito profundas e extensas, além de crônicas?
Especificamente na gestão do dinheiro público, quais seriam as perspectivas e os limites da descentralização, se é que alguma forma isso vem sendo cogitado? Isso sem esquecer que transferência de dinheiro implica em transferências de responsabilidades. E aqui a pergunta vai para as aguerridas corporações que compõe o funcionalismo local: tais responsabilidades serão assumidas, ou mais uma vez vai se jogar a culpa na “falta de condições de trabalho” ou na “inoperância do governo” (todos os governos…)?
E por falar em responsabilização, nobres políticos e gestores: que tipos de instrumentos estão sendo desenvolvidos para que se estabeleça, de fato, no sistema público de saúde do DF, parâmetros de aferição de valor e qualidade de serviços, remuneração por performance e outras formas de valorização de desempenho das equipes de saúde? Sindicalistas, acalmai-vos… Isso é o que fazem os países mais avançados em matéria de saúde. É de fato coisa um tanto chocante na vossa república, onde o interesse público é o último a ser considerado. Governantes, antes de virar a página meditem: isso pode dar voto, não o das corporações sindicais, mas aquele de quem realmente importa (ou deveria importar na saúde) – o usuário! Ele existe!
Da mesma forma que na gestão financeira, quis são as perspectivas e os limites cogitados para a descentralização e a racionalização de compras de medicamentos e outros insumos? E quanto ao isolamento e contenção das feras do mercado em tal área, gente que diz uma coisa e faz realmente o que diz, o que se pretende fazer?
E para encerrar, o que seria apenas mais um tira-gosto no cardápio de opções: que tipo de acordo, com seus conteúdos e procedimentos, se pretende para a gestão de fluxos de pacientes entre o Distrito Federal e os municípios de seu Entorno?
Quantos carnavais ainda passarão antes que tais perguntas tenham respostas?
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