André Viana partiu…

Esta semana perdemos André Viana. Ele talvez seja um dos raros casos no Universo de um cirurgião que depois de anos de prática (e de ensino) em sua especialidade se baldeia para o campo da psicanálise – em si e para os demais. Eu o conheci nos anos 90, quando passei pelo Conselho Administrativo do Hospital da UnB, do qual ele era diretor. Logo me aproximei daquele sujeito comunicativo e bem-humorado, sempre vestido com indumentária peculiar: tênis colorido, calça formal, camisa social, jaleco e gravata. Mas o melhor dele ainda estava por conhecer, sua iniciativa de criar uma sessão semanal especial para os calouros de medicina, dentro mesmo do HUB, que ele denominava como “um lugar para se discutir coisas que não estão no currículo de medicina”. E ali se conversava sobre a melhor literatura, filmes, fatos do dia a dia e da política. Havia eventuais convidados, entre eles eu, muito honrosamente, aliás, recém-chegado ao Conselho. Nas segundas feiras, ao final da tarde, o auditório do Hospital, acostumado a outro tipo de debate, se lotava daqueles jovens de olhos brilhantes, numa pausa especial a anteceder sua entrega aos ritos burocráticos e monocromáticos do curso de medicina. Além de bem-humorado, André era culto e dotado de um olhar abrangente para a vida. Gostava de operar gente, sem dúvida, mas ao mesmo tempo possuía especial atração pela arte, pela literatura, por bons vinhos, para a boa conversa e as frases de efeito. Perdemos o contato após sua aposentadoria, em meados da primeira década do século, mas recentemente nos reencontramos nas ondas da blogosfera, ele com seu “Louco por cachorros”, eu com o meu “A saúde no DF tem jeito”. Em tais espaços, tanto ele como eu, frequentemente íamos muito além do que nossos respectivos rótulos indicavam. Grande André Viana! Saúdo aqui, com saudade e respeito, a este cara imprescindível, para dizer pouco. Que falta sempre nos farão essas pessoas que são capazes de olhar muito além de seu quadradinho profissional, embora neste espaço também tenham feito coisas admiráveis. André foi uma dessas benditas pessoas capazes de ver a vida além, bem além, da moldura do cotidiano.

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