Aqui, ali e em toda parte: tem solução o nosso SUS?

Não são poucos os problemas que o sistema de saúde de Brasília enfrenta. O mesmo acontece no país como um todo. Em termos locais, algumas questões resultam diretamente da gestão equivocada que, governo após governo, se reproduz em nossa cidade. Outros são de natureza mais estrutural, repercutindo localmente o que também afeta praticamente todo o território brasileiro. Não só as avaliações das entidades de profissionais de saúde, do Ministério Público ou mesma da imprensa convergem em muitos aspectos, por exemplo: superlotação, demora no atendimento, sucateamento da rede, carência de profissionais, longas filas de espera mesmo para atendimentos banais, relações desumanizadas. As queixas dos funcionários são parecidas com as dos usuários, acrescidas de sobrecarga de trabalho, falta de materiais e quadro de colaboradores reduzido. Em cima de tudo isso, sub financiamento crônico, gestão deficiente e má distribuição dos recursos, o que faz, por exemplo, que esta cidade na qual a relação médico por habitante seja a maior do Brasil mantenha pontos de alocação zero de tal profissional em muitas partes de seu território. O clima eleitoral do momento, apesar de tudo, deveria ser propício para a discussão de tais questões, seja aquelas derivadas da ação do governo local, seja aquelas que dizem respeito ao próprio Sistema Único de Saúde. Não vamos desistir e sim falar disso hoje com mais detalhe.    

O SUS é complexo, como todo mundo sabe. Aqui e em toda parte tem muitos problemas. Mas é melhor considera-lo como uma solução que ainda tem problemas, muito, muito mais do que um problema sem solução, como querem alguns defensores da intensificação da presença privada. O fato é que se não tivéssemos o SUS, com todos os seus percalços, esses mais 700 mil mortos que o atual governo está legando ao país, teríamos seguramente pelo menos mais 50 % disso. Trago aqui um robusto estudo que discute a questão do necessário aprimoramento do SUS, distante tanto de uma visão catastrofista ou privatizante, como da visão laudatória costumeiramente empregada pelos militantes. Trata-se de mais um tópico da coletânea “Mais SUS em Evidências”, realização do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde e entidades parceiras. O objetivo é contribuir com o debate público eleitoral e subsidiar a próxima gestão do Governo Federal a partir da caracterização de alguns dos principais desafios enfrentados pela saúde pública no Brasil. Isso foi feito por meio de uma ampla revisão de literatura, análise de dados primários e de entrevistas semiestruturadas com especialistas e gestores públicos.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que o modelo de organização da saúde no Brasil é bastante diferente do que se pratica comumente ao redor do mundo: caracterizado pela presença simultânea de um sistema público universal, materializado no Sistema Único de Saúde (SUS), e um setor privado sobreposto, que é responsável pela maior parcela dos gastos em saúde. O país gasta 9,2% de seu PIB em saúde, no entanto a parcela de gasto público corresponde a apenas 3,95% do PIB e está substancialmente abaixo da média de países da OCDE e de outros com sistemas de saúde universal. Esse fato sugere um sistema público cronicamente subfinanciado.

Em segundo lugar, uma análise mais profunda sobre as tendências recentes no orçamento do SUS revela também que os gastos da União com saúde não crescem desde 2012. Simultaneamente, municípios e estados aumentaram seus gastos, mas a tendência mais recente é de estagnação. Não obstante, enquanto o orçamento federal para a saúde se mantém estável em torno de R$ 147,4 bilhões, a regressiva renúncia fiscal está em plena expansão, com previsão de alcançar R$ 56 bilhões até o final de 2022.

Sem deixar de lado a necessária competência e responsabilização da gestão local (coisa que precisamos melhorar muito em nossa cidade), creio que os indicativos desta publicação podem trazer subsídios fundamentais para o aprimoramento do SUS aqui e em toda parte do País.

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Acesse o documento completo no link a seguir: https://agendamaissus.org.br/downloads/

Veja também:

https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2022/06/5016282-crise-na-saude-publica-do-df-parece-nao-ter-fim.html

Publicações deste blog sobre tal tema:

https://saudenodfblog.wordpress.com/2022/08/31/saude-nas-eleicoes-para-presidente/

https://saudenodfblog.wordpress.com/2022/08/23/participacao-social-no-sus-e-preciso-caminhar-mais/

https://saudenodfblog.wordpress.com/2022/08/22/3258/#more-3258

https://saudenodfblog.wordpress.com/2022/08/05/que-nao-seja-apenas-mais-uma-conversa-de-mentiroso/

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