Ideias falsas e propostas mirabolantes sobre a organização de serviços de saúde

Que bobagens! Digo isso inspirado no livro recém lançado de Natália Pasternak e Carlos Orsi, de nome semelhante, que já chegou levantando polêmicas, as quais – é bom dizer – costumam trazer mais contribuições ao conhecimento do que a paz sepulcral das verdades incontestadas. Dizem eles: “a maioria das pessoas parece ter, pelo menos, uma pseudociência de estimação”. Parece ser o caso na área da saúde, na qual o Brasil parece ter mais “especialistas” (ou pseudo-especialistas) do que no futebol. Assim, um pouco ceticismo, ainda mais diante de certas soluções geniais que nos apresenta o famigerado senso comum, só poderia nos fazer bem. Pasternak e Orsi abordam doze temas que não passam pelo crivo da ciência; aqui seremos mais modestos, falando apenas de saúde pública, mas os leitores podem ter certeza que a nossa lista também é grande e densa. Outra citação da dupla que cai como uma luva: “Energias curativas, bolinhas de açúcar mágicas, terapias que invocam os antepassados e maluquices inventadas operam, todas, sob ‘leis de tapete voador’. Podem render boas metáforas, boa literatura, boa retórica, mas assim como a Odisseia não prova que os deuses do Olimpo existem, uma história bem contada não é necessariamente uma história real.” É isso aí. É preciso contestar o pensamento mágico e destituído de evidências, além de identificar e denunciar os mercadores de ilusões e suas soluções mágicas. Vamos em frente.

As questões que apresentarei, todas respaldadas pelo senso comum, são as seguintes e no link a seguir os leitores encontrarão comentários sobre elas.

  1. Quem tem plano de saúde não deveria utilizar o SUS.
  2. Especialistas e especialidades deveriam ser mais abundantes no sistema de saúde, pois representam a grande causa de represamento no mesmo.  
  3. É preciso formar mais médicos, para evitar a delegação de transferências de responsabilidades nas ações de saúde.
  4. A telemedicina representa um risco para a qualidade das ações de saúde, por constituir uma maneira de evitar o contato direto entre médicos e pacientes.
  5. Todos são iguais perante a Lei – isso vale também para os critérios de admissão na porta de entrada dos serviços de saúde.
  6. A medicina deve se voltar para as causas clínicas e tratáveis das doenças, sendo o resto de responsabilidade dos políticos e administradores – ou das assistentes sociais.
  7. A Atenção Primária à Saúde não deixa de ser uma proposta interessante, mas para questões mais complexas não tem serventia.
  8. Enfermeiros e outros profissionais paramédicos são importantes para apoiar e acompanhar o trabalho dos médicos.
  9. Todos os serviços de saúde deveriam ter hortas medicinais disponíveis, para baratear o custo dos tratamentos.
  10. O SUS é um problema sem solução e a inciativa privada deve ter maior participação no sistema.

Acesse o link abaixo:

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Nada é perfeito…

O livro citado acima, QUE BOBAGEM!, como já sugerido pelo seu título tem levantado polêmicas fortes nos meios médicos e jornalísticos do país. Recente crítica foi apresentada pelo psicanalista Christian Dunker, que acusa os autores de tratarem a psicanálise com preconceito e superficialidade. Não me sinto qualificado a rebater ou defender a posição de um ou de outro lado, mas me parece que a régua da ciência “dura” (mesmo da biologia ou da clínica, com seu conceito de “cura”) talvez não se aplique a uma prática de cunho mais existencial e simbólico como é o caso da Psicanálise.

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Uma ferramenta de construção de redes sociais solidárias

Brasília acaba de receber o 12º Congresso de Terapia Comunitária Integrativa (TCI), em conjunto com o 9º Congresso Internacional de Psiquiatria Social. A TCI representa uma notável tecnologia social, criada pelo psiquiatra, antropólogo e professor da Universidade Federal do Ceará, Adalberto de Paula Barreto, na década de 80, como estratégia para se trabalhar de forma grupal e comunitária, de maneira dinâmica, participativa e reflexiva, oportunizando assim espaços para exposição e debate de problemas e inquietações das pessoas, com repercussão sensível no diálogo e na busca de soluções para os conflitos emanados do grupo. Através da TCI se abrem espaços de troca de experiências, favorecendo e fortalecendo a criação de vínculos e o resgate da autonomia dos indivíduos por facilitar a transformação de carências em competências, de forma que, a partir da sabedoria dos próprios indivíduos, torna-se possível fomentar a capacidade de ressignificação das dores e das perdas por eles revelados. Voltaremos ao assunto nas próximas semanas, já que o responsável por este blog, Flavio Goulart, está encarregado de produzir um documento síntese sobre tal evento. Por enquanto podemos dizer que foram três dias de intensas reflexões e troca de energias e também de muita festa e alegria. 

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