Reformas Leoninas na Saúde

Deu na imprensa local (ver link) que a vice-governadora do DF, Celina LEÃO anunciou medidas que segundo ela “vão minimizar o caos na saúde pública” em nossa cidade. Entre outras novidades declarou que representantes do Executivo realizarão reuniões com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), com o intuito de aumentar a capacitação dos profissionais de saúde e ampliar a oferta de médicos especialistas. Entre as estratégias discutidas está o fortalecimento das unidades básicas de saúde (UBS), entre outras medidas e também a “ampliação da mão de obra” nas mesmas. Afinal, diz a Sra. Leão, não só em tais unidades básicas, mas também em “outros locais”, são tratadas as “doenças cardiológicas e as doenças diabéticas”. Admite em todo caso que a prevenção e o atendimento inicial nas UBS são essenciais para evitar que os pacientes cheguem com complicações às Unidades de Pronto Atendimento (UPA), onde deverá ocorrer a devida “triagem”, além de “exames de rotina”.  Vale comentar as expressões entre aspas, pelo menos.

[ATENÇÃO: A PARTIR DESTA DATA AS POSTAGENS DE “SAÚDE NO DF” SERÃO MENSAIS, SEMPRE NO PRIMEIRO SÁBADO DE CADA MÊS.]

Vamos lá, em primeiro lugar, o Leão (ou a Leoa) podem ser eficientes na disputa por um lugar preponderante na Floresta, mas em matéria de Saúde parece não entenderem muito bem o que acontece na realidade.

  • Para não dizer que só farei críticas, ressalto que estão corretas as ideias de qualificar os profissionais de saúde e disponibilizar mais médicos (além de outros profissionais, claro) e também reconhecer e valorizar a importância das UBS no atendimento inicial dos pacientes, embora não se deixe muita clareza a respeito de “como” isso será feito.
  • Minimizar o caos”: não seria o caso de eliminar (ou começar a fazê-lo) os fatores que geram o caos no sistema de saúde? Por exemplo, a indefinição de portas de entrada ou o favorecimento de portas de entrada múltiplas; o planejamento com foco na oferta e não nas necessidades; o domínio das pressões corporativas e do complexo médico industrial; a falta de vontade política, a estruturação do sistema com privilégio às especialidades médicas, entre outros fatores.
  •  A referência a “especialistas” é reiterada nas palavras da Sra. Leão; ora, todo o mundo (civilizado, pelo menos) sabe que a casa de saúde se arruma é pela porta de entrada e que a assistência dominada pelas especialidades e não pelo atendimento generalista, através da atenção primária à saúde, acaba sendo um dos principais fatores geradores do tal “caos”.
  • “Mão de obra”: será que não existe palavra mais adequada para se referir ao elemento essencial que são as pessoas dentro das equipes de saúde? E mais do que isso, o respeito por elas, a preocupação com qualificação, qualidade, condições de trabalho, reconhecimento de efetividade mais do que simplesmente produtividade. Afinal, a expressão “mão de obra” serviria, por exemplo, com todo respeito, para outro tipo de trabalho mecânico, repetitivo, programável. Na saúde é diferente.
  • “Outros locais”: Mme. Leão fala do atendimento nas UBS e também em locais diferentes das UBS. Que fique bem claro, a porta de entrada nos sistemas de saúde deve ser uma só, as unidades básicas ou de Saúde da Família e assim, ou no máximo os serviços emergenciais e assim falar em outras localizações significa assumir que o sistema de saúde pode também ser uma peneira em cujas malhas se fermenta o tão temido “caos”.
  • “Triagem e exames de rotina”: Deus nos livre se o atendimento em uma UBS se restringir apenas a estes dois quesitos. É ali que se situa primeiro contato de pacientes, com amplitude de ofertas, foco no atendimento em todas as faixas de idade e ciclos de vida, integralidade e até mesmo a coordenação do cuidado à saúde, com reflexos positivos em todo o sistema – aliás, o melhor antídoto contra o caos. A atenção primária bem estruturada, aliás,  é bem mais do que esta visão simplória de fazer apenas “triagem e exames de rotina”, sem esquecer que “triagem” é um termo de origem na linguagem policial. Em um sistema de saúde que faça jus a tal designação, o que deve existir é mais propriamente acolhimento e direcionamento do fluxo de pacientes, separando do que é “aqui e agora”, de “aqui mas não  agora” e de “agora mas não aqui”, havendo também uma faixa de “nem aqui e nem agora”…
  • E finalmente, o IGES faz ou não faz parte do sistema de atendimento em nossa cidade, dentro da esfera de comando da SES-DF? Assim, não seria o caso de apenas “fazer reuniões com o pessoal de lá”, como quer Mme. Leão, mas simplesmente ditar para eles o que deve ser feito. Entretanto, certamente os que deveriam ordenar tal coisa parecem não se dar conta da autoridade de gestão que possuem…
  • E mais: quem souber o que são “doenças diabéticas” que me esclareça…

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ACESSE: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2024/05/6867102-celina-leao-fala-sobre-acoes-para-conter-crise-na-saude-do-df.html

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Antes que me acusem de só apontar problemas, mas não soluções, mostro abaixo dois posts deste blog que tratam das tais soluções possíveis para tantos problemas (mas há nele muitos outros textos neste sentido, ok?) (copie e cole no seu buscador – Google ou outro – o que vai abaixo).

Vai bem a nossa Saúde? ‹ A SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL TEM JEITO! ‹ Reader — WordPress.com

Na saúde, a casa se arruma é pela porta da frente: o caso do DF. ‹ A SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL TEM JEITO! ‹ Reader — WordPress.com

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