Podem os serviços de saúde contribuir para a paz em suas comunidades?

Que a violência está hoje entre as grandes preocupações da sociedade é fato de conhecimento geral, como se comprova, por exemplo, com os conflitos atuais em vários países; perseguições a minorias; atentados terroristas de fundo político, étnico, de gênero e até mesmo religioso; agressões a professores e profissionais de saúde e violência policial e de gangues armadas; fome e miséria em muitas partes do globo, derivadas de guerras e conflitos internacionais e tribais, além da escalada de projetos políticos, tendendo a negar conquistas sociais civilizatórias relevantes. O sistema de saúde mão escapa de tais problemas e ainda lhes acrescenta outros, como se denota não só pela piora geral de indicadores, a ameaça de pandemias, a oferta precária de serviços, além de carências de toda ordem, levando ao acirramento de tensões entre a população de usuários, equipes dos serviços e tomadores de decisão.

Continue Lendo “Podem os serviços de saúde contribuir para a paz em suas comunidades?”

A permanente crise hospitalar no DF

Ainda não li os jornais de hoje, nem assisti a TV, mas posso apostar em que algumas notícias com certeza estarão lá. Por exemplo, sobre as longas filas matinais na porta de serviços de emergência ou outros tipos de serviços de saúde; usuários revoltados ameaçando quebra-quebra; intervenção policial ou da segurança para acalmar os ânimos; agentes políticos tentando tirar proveito da situação e outros tantos dizendo que está tudo “normal” (no que, aliás, devem ter razão, quanto a esta estranha “normalidade”).  Isso, é bem verdade, não apenas aqui no DF como em muitas partes do Brasil, onde tais fatos já fazem “parte da paisagem”. São coisas que não refletem apenas o estado de desorganização e precariedade dos serviços de saúde em geral, mas tem foco mais sensível nas costumeiras restrições às internações hospitalares. Questão fundamental, sem querer simplificar demais a problemática: toda gente que está naquelas filas deveria ou precisaria estar ali? Um raciocínio simples: há quem precise de atendimento “aqui e agora”; outros são para “agora”, mas não “aqui”; há os que são para “aqui”, mas que podem esperar; ou seja, “não agora”., além da turma do “não aqui e nem agora”. Por incrível que pareça, em boa parte dos serviços de saúde, aqui e alhures, a regulação dessas filas (e a solução adequada a cada uma de tais situações) cabe a um utensílio inventado há muitos séculos: o relógio. Para superar isso há ideias no cenário, resumidamente: (a) acolhimento e (b) utilização das classificações de risco através de protocolos padronizados. Coisas simples, mas geralmente ignoradas ou tratadas com superficialidade nos serviços de saúde, particularmente na modalidade dominante aqui em nossa cidade. Em tudo isso a enfermagem tem um papel especial, ao defender os pacientes da dispensa, devolução ou encaminhamento antes que recebam atendimento ou pelo menos alguma forma de orientação. Coisas assim certamente terão seus adversários. Os pacientes, por exemplo, podem ter outras expectativas, de serem rapidamente atendidos e recebam logo seus pedidos de encaminhamento, exame ou receita, reagindo negativamente a um eventual “não agora”. Os médicos normalmente repudiam tentativas de racionalização, de qualquer natureza, por razões ideológicas que têm mais a ver com seu conforto no trabalho mais do que o de seus pacientes. Assim o papel da enfermagem é essencial, e deve ser de liderança, existindo uma tendência mundial no sentido de que a enfermagem desempenhe um papel crítico no aperfeiçoamento da porta de entrada dos sistemas de saúde, com práticas já consagradas em países com bons sistemas de saúde. Uma coisa é certa: para distúrbios de tal natureza, que afetam profundamente o bem estar e os direitos da população, medidas paliativas não cabem, da mesma forma que soluções intempestivas do tipo cortar cabeças ou restringir o direito da população aos serviços de saúde, coisas que só provocam mais dor e sofrimento, além de afastar cada vez mais uma solução definitiva para tais problemas.  

Continue Lendo “A permanente crise hospitalar no DF”

Espiritualidade e Saúde

Entre os dias 11 e 13 de abril corrente está sendo realizado, em Juiz de Fora-MG, o Congresso Internacional de Ciência, Saúde e Espiritualidade (Conupes), tendo como focos a relação mente-cérebro, as experiências espirituais, as possibilidades de que a mente possa sobreviver à morte física. O evento é voltado aos interessados no estudo científico da espiritualidade, nas áreas da Saúde, Humanidades, Ciências Sociais e Educação, além da comunidade geral. Outras temáticas previstas nos debates do evento são: como integrar espiritualidade na prática clínica de modo ético e baseado em evidências, a inclusão da espiritualidade no ensino da área de Saúde e como conduzir pesquisas na área da espiritualidade. Haverá minicursos, mesas-redondas, conferências e mentorias individuais, com palestrantes oriundos de diversos campos do conhecimento, como a área de Saúde, Filosofia, História e Jornalismo. Nossa co-editora deste blog, Henriqueta Camarotti, está presente no evento e na próxima semana nos trará importantes informações sobre os trabalhos desenvolvidos no mesmo. Enquanto isso, trago de volta um texto em parceria com ela, aqui publicado há um ano, sobre o mesmo tema, para reavivar a memória dos leitores.  

Acesse: Espiritualidade e saúde – A SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL TEM JEITO!

A Saúde ainda está aqui…

Ou seja, no mesmo lugar de sempre… Mais um ministro demitido, no caso, uma Ministra como “M” maiúsculo, com nomeação em seu lugar de um especialista em transações clientelistas (com alguma experiência na área da saúde, felizmente). Aproveitando a deixa do filme brasileiro merecidamente premiado com o Oscar, que entretanto levantou pelo Brasil patriotadas sem conta, como se o tal boneco careca contemplasse futebol, e não Arte …), faço aqui alguns comentários à situação presente no campo da saúde. Mas chega de mau humor. Quero falar hoje, aproveitando a (má) lembrança que o filme nos traz da ditadura militar no Brasil, é de como a tal quartelada afetou a organização de nosso sistema de saúde. Para acalmar os saudosistas, viúvas e viúvos dos fardados, de saída esclareço: alguma coisa positiva aconteceu em tal período…

Continue Lendo “A Saúde ainda está aqui…”

O mito da administração militar da coisa pública

Com as recentes prisões de generais, coronéis e outros igualmente graduados, os militares brasileiros alcançaram um patamar que lhes era merecido desde a guerra do Paraguai e quarteladas diversas em que se envolveram. Que paguem o preço, é o que desejam os cidadãos, pelo menos aqueles que são, realmente, de bem. Na Saúde, comparando a atuação deles nos governos militares e mais recentemente no desgoverno do inominável & inelegível, pelo menos na ditadura de 64 tiveram o bom senso de entregar o respectivo ministério a civis – que até não se saíram mal. Pelo menos se erradicou a varíola e o bócio endêmico, mas não a corrupção como os milicos gostam de afirmar. Além disso foram dados os primeiros passos para a construção do SUS, com as chamadas AIS – Ações Integradas em Saúde, a partir de 1983. Lembre-se, todavia, que a consolidação de tal movimento se deu, mais uma vez, sob a alçada civil. Sem querer ressuscitar figuras patéticas, como a do General Pesadelo, digo Pazuelo, aquele ilustre personagem que não sabia distinguir o Pará do Amapá e nem tinha ouvido falar de SUS, trago aqui de volta um artigo aqui publicado em um daqueles anos de vergonha, tratando do verdadeiro mico, digo mito, que atribui aos fardados uma insuperável competência na gestão da coisa pública.  Apenas para não se esquecer do horror representado por tal pesadelo.

Continue Lendo “O mito da administração militar da coisa pública”