Tenho tratado da questão do Entorno aqui neste blog por vezes sucessivas. O foco maior dos problemas, para mim, é a maneira um tanto superficial, bem longe de se transformar em prioridade, com que as sucessivas administrações do DF vêm tratando a questão. Aliás, do outro lado da mesa, em Goiás, também. Estabelece-se, assim, um jogo de empurra, que junta fome com vontade de comer – na verdade ações (ou falta delas) presentes nos dois lados. Vejo no Correio Braziliense desta semana (ver link) uma abordagem diferente da habitual, com moradores da região do Entorno – e não políticos ou burocratas – se posicionando sobre como vêm a atuação do GDF em relação a seus problemas. Ênfase maior é colocada nas políticas de Saúde e de Transporte, mas dentro de um contexto que se extrapola para muitas outras ações de governo. Há uma proposta, ainda dos anos 90, que é a da criação de uma Região de Desenvolvimento Integrado (RIDE), abrangendo duas dezenas de municípios, proposta carregada de boas intenções, mas que nunca saiu do papel. Uma alternativa que começa a ser discutida em anos recentes procura superar o conceito de RIDE, demasiadamente amplo em sua extensão geográfica, para colocar foco em uma Periferia (ou Área) Metropolitana de Brasília (PMB), com12 municípios. Pode ser um bom recomeço para discussões que estão paradas há tempos. Como exemplos da situação existente, o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) estima a presença de 826 mil pessoas residentes em tal área, das quais 17,92% buscam serviços de saúde no DF, 8,98% dos jovens estudam em instituições da capital do país e 36,14% dos trabalhadores têm emprego no DF. Vamos conversar sobre isso nas linhas abaixo.
Continue Lendo “Entorno, mais uma vez…”O Público e o Privado na Saúde: uma eterna luta do Bem contra o Mal?
Tenho em mãos documentos atualizados, firmados por representantes do setor privado em saúde, com propostas para o novo governo que se inicia. (1) A Saúde que devemos ter, tem como signatário uma entidade denominada Iniciativa FIS, um “ecossistema de lideranças da Saúde da América Latina”, declara como objetivo principal promover transformações no setor a partir de um encontro entre atores públicos, privados e das academias, através de conexões e debates e inovações. (2) Saúde do Brasil 2023-2030 vem do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), formado por organizações públicas e privadas de toda a cadeia produtiva e de serviços de saúde, representando posições de consenso e convergência de interesses do setor saúde, voltado para ações de governo, mas com expectativas de tenha utilidade também para orientar o debate nas diversas organizações de saúde públicas e privadas. Pretendo aqui confrontá-los com um terceiro documento, (3) Relatório de Transição de Governo 2023, visando verificar até que ponto tenham propostas convergentes – ou não. De toda forma, a simples existência de tais peças oriundas do setor privado é motivo de regozijo e esperança para mim, pois acredito realmente que a separação “água e óleo”(ou o Bem contra o Mal) que historicamente domina a relação entre tais atores e o setor público não mostra o melhor dos caminhos para resolvermos a problemática que nos cerca. Tenho escrito muito sobre isso aqui (ver alguns links ao final) e a pergunta que não se cala é: seria possível confiar nas associações do setor privado com o Poder Público? Sem querer dizer sim ou não, creio ser preciso não imaginar apenas que estaremos sempre enfrentando lobos em pele de cordeiro nesta questão.
Continue Lendo “O Público e o Privado na Saúde: uma eterna luta do Bem contra o Mal?”Novos tempos na Saúde
[Retornando agora nossas postagens semanais, depois de um mês de recesso, em um panorama de acontecimentos os mais diversificados e a anunciadores de novos e melhores tempos para a Saúde no Brasil – pelo menos é o que esperamos.]
A gente até se belisca para ver se não está sonhando. Mas não há dúvida, aqueles pazuelos, digo pesadelos, acabaram. Queirogas também fora do jogo… Os verde-oliva que estão acampados no Ministério da Saúde com o tempo terão alta (ou darão baixa). Com certeza, não há mais meios-fios a serem caiados por ali… E ainda tem a grande novidade: no cargo de Ministro, pela primeira vez na história, tem assento uma mulher: Nisia Trindade. E não é qualquer uma: socióloga, doutora, conhecedora da saúde pública, ex-presidente da Fiocruz, onde construiu uma ilha de resistência contra o negacionismo, a irresponsabilidade e a incompetência dos bolsonaristas de farda ou jaleco. Depois de seis anos de desastres sucessivos na saúde teremos oportunidade, a partir de agora, de usufruirmos de alguma alegria – ou pelo menos de uma forte esperança. Vamos ver o que a nova Ministra da Saúde está propondo, em entrevista coletiva recente, 10 de janeiro pp, na qual os jornalistas, por mais perguntas que fizessem, foram tratados com urbanidade, respeito – e até carinho em alguns casos. Tudo muito diferente do que era antes…
Continue Lendo “Novos tempos na Saúde”Retrospectiva 2022 (o ano que já devia ter se encerrado…)
Este ano infeliz felizmente já se finda. Pelo retrovisor, é hora de analisar os acontecimentos que o compuseram. Ou, quem sabe, seria melhor esquecê-los? Não! Melhor lembrar, para não corrermos o risco de esquecer o verdadeiro nó cego em que fomos colocados, graças à escolha insensata de um punhado de brasileiros que pareciam, em 2018, não ter os pés na realidade. Um tanto deles ainda estão em tal posição, embora com pés trocados pelas mãos, agora atolados na lama até o pescoço e com os joelhos no chão. Brasil acima de tudo e Deus acima de todos – e alguns idiotas por fora de tudo – eis o lema que define essa gente. Mas agora há luzes no horizonte e embora não haja garantia de que não virão muitas dificuldades pela frente, sempre serão luzes. E através deste túnel que parecia não ter fim chegamos finalmente a um lugar mais arejado e claro. Assim, toca a fazer uma retrospectiva de 2022, valendo para o País e para o DF, como convém a esta época do ano.
Continue Lendo “Retrospectiva 2022 (o ano que já devia ter se encerrado…)”Na saúde, a casa se arruma é pela porta da frente: o caso do DF.
Leio no Boletim Informativo da SES-DF do dia 9 de novembro pp que em nossa cidade a estratégia Saúde da Família supera 1,9 milhão de pessoas cadastradas, tendo o atual governo duplicado o número de equipes, em ação assumida como busca de novos recursos federais para a cidade, o que não deixa de ser legítimo. Ali se divulga também que nos últimos cinco anos o número de pessoas cadastradas cresceu quase nove vezes, já que pouco passavam de 200 mil no início de 2018. E se acrescenta: o número das equipes saltou de 300 para cerca de 600 no mesmo período, subindo também a contratação de servidores públicos em tal área, que hoje somam mais de sete mil profissionais. Fico feliz em conhecer tais informações, as quais já procurei sem sucesso na página da SES, mas o que importa é que elas estejam assim disponíveis agora. Mas mesmo assim algumas perguntas não querem calar, por exemplo: estas equipes estão completas, de agentes comunitários a médicos e enfermeiros? Houve qualificação adequada das pessoas contratadas? A velha fórmula de contratar profissionais aposentados ou não especializados ou com escassa afinidade à área continua prevalecendo? Estão sendo obedecidos os parâmetros quantitativos da Política Nacional de Atenção Básica, que prevê uma equipe (completa) de SF para cada 3.500 pessoas? As instalações físicas da rede são adequadas? Receio que boa parte de tais indagações tenham respostas negativas, quando não evasivas. Trago aqui algumas informações adicionais, que a SES não divulga, e vou comentá-las adiante. Me acompanhem.
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