Imagem do Brasil disfuncional de hoje em dia: os chefes militares ameaçam botar pra quebrar se a CPI insistir em investigar seus pares. Pode? Não pode… Ainda mais partindo de uma corporação que vê a cada dia um punhado de seus membros denunciados por incompetência e até mesmo por improbidade. Tem Centrão também no olho deste furacão… Mas ao contrário dos militares, esta facção política não chia, apenas flexiona um pouco mais a espinha, à espera de que o governo atenda seus interesses ou até mesmo que venha um novo governo, ao qual ela aderirá sem pestanejar, como é de seu costume. No estado de lambança desorganizada que se instalou no Ministério da Saúde, com fardados de um lado e paisanos do outro, unidos na elaboração de falcatruas e malfeitos diversos, é difícil saber quem tem menos razão ou probidade. Todos são ou se tornaram suspeitos. Encontros estranhos em chopperias para negociar propinas; cabos de polícia se arvorando a executivos internacionais; cargos ocupados por pessoas prosaicas; coronéis faturando com empresas ad-hoc: é tudo com esta turma mesmo. Mas as chefias militares não querem que se investigue ou mesmo se fale disso… Aliás, nem precisaria de CPI, as declarações das autoridades, inclusive do Presidente da República, confirmam pencas de malfeitos a cada dia que passa. Enquanto isso, do fundo de suas covas, mais de meio milhão de mortos observam a cena trágica. O certo é que enquanto o Centrão já está desmoralizado e o Capitão perdeu totalmente o rumo, faz tempo, os militares pareciam manter alguma credibilidade – mas mostram que já abriram mão disso. Mas convenhamos: o tal “mito” da administração militar extensiva a atividades civis tem algum fundamento?
Continue Lendo “As lambanças na Saúde”Saúde não é só uma questão de Saúde
Dia desses fui vacinar contra Influenza, eis que já tinha tomado minhas duas doses regulamentares da Coronavac. Procurei o Centro de Saúde da 905 Norte, o mais acessível para mim naquele momento. Lá chegando, levei um susto, pois uma área enorme da W4 Norte, em frente à unidade e adjacências, estava inteiramente ocupada pelos caraterísticos cones laranjas do Detran-DF (vejam foto), impedindo que se estacionasse veículos nas proximidades. Ou seja, o acesso a uma vacina de interesse especial para idosos, que nem sempre têm facilidade em se locomover, estava sendo bloqueado ou pelo menos dificultado naquele momento. Burrice, descuido ou má fé? Ou tudo isso junto, como soe acontecer no país ultimamente. Seja lá o que for, o que se via ali era uma oposição ou desconexão entre uma ação da área de trânsito e outra de saúde. Quantas vezes assistimos coisas assim em nosso dia a dia? Outros exemplos de tais desencontros infelizes: os Tribunais de Contas que por pequenas falhas contratuais embargam por meses ou anos a fio obras em rodovias, justamente em trechos que costumeiramente geram acidentes que matam dezenas de pessoas por ano; as escolas que permitem que se vendam em suas cantinas refrigerantes adoçados, guloseimas ultraprocessadas e todo tipo de alimento nocivo para a saúde de crianças – e ali supostamente se educa!; o Ministério Público e outros órgãos de fiscalização, que cancelam contratos apenas por idiossincrasias ideológicas ou interpretação facciosa da legislação, prejudicando assim o atendimento a milhares de pessoas (como já se tentou fazer, por várias vezes, com o Hospital da Criança de Brasília). Como se vê, o Detran-DF não está sozinho em ações assim tão irracionais. E se a própria direção da unidade tiver pedido tal bloqueio? Pior ainda… O problema, neste caso, seria de incompetência ou falta de noção, não de integração. Como ficamos diante disso?

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Doenças no Planalto Central: passado e presente
Se há uma coisa sobre a qual os saudosistas se enganam é no que diz respeito às condições de saúde da população, no Brasil inclusive. Em relação a governos passados, certo saudosismo até faz sentido. Isso pelo menos até o aparecimento da pandemia de covid e de seus agentes propulsores, principalmente os de natureza política, mais ainda do que os biológicos. Aqui no Planalto Central, por exemplo, temos hoje condições de saúde muito melhores do que à época da construção da cidade, quando a mortalidade infantil no país chegava ou até passava de 100 por mil nascidos vivos (hoje em média é 22, mas em algumas localidades não passa de um dígito) e a expectativa de vida pouco ia além dos 50 anos (hoje ultrapassa os 72). E assim como estes indicadores, muitos outros. É certo que alguns tipos de câncer, os traumatismos, as doenças mentais e as condições ligadas ao estilo de vida estão em ascensão nos dias de hoje – nada é perfeito. Mas a verdade é que, em termos proporcionais, morre (e nasce) muito menos gente do que no passado. Encontrei algumas informações interessantes sobre tal assunto, não da época da fundação da cidade, mas de ainda muito antes, quando esteve aqui a Missão Cruls, encarregada de fazer as primeiras demarcações do DF, na última década do século XIX. Assim, fugindo à regra dos últimos tempos, não comentarei nada sobre a atual pandemia de Covid, embora, infelizmente, continue a falar de doença e morte. Sinto muito.
Continue Lendo “Doenças no Planalto Central: passado e presente”UPA’s no DF: problema ou solução?
A ideia do Ministério da Saúde na virada da primeira década deste século (nos bons tempos em que o Brasil tinha ministros da saúde de verdade), de criar as chamadas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s), certamente era preencher o vazio existente entre as unidades básicas da ponta da linha e os serviços emergenciais. Isso era (e continua sendo) um problema que levava muitas pessoas a ocupar indevidamente lugares nas filas das emergências, sacrificando muitas vezes a quem precisava de fato, sem conseguir, tal tipo de atendimento. Passada mais de uma década tal modelo está em cheque, pois não é certo que tenha sido capaz de mudar o panorama da demanda às emergências e, pior, tem o risco de fomentar a competição entre tais unidades e a rede de atenção básica, incentivando a clientela destas a procurar um tipo de atendimento que nem de longe seria desejável, pela relativa superficialidade, não adequação tecnológica e descontinuidade dos cuidados.
Continue Lendo “UPA’s no DF: problema ou solução?”Escuta cidadã qualificada versus “controle” social
[Nesta semana completam-se 8.898 mortes por covid aqui no DF; 482.019 no Brasil. Enquanto isso o psicopata sem-noção, boquirroto, mentiroso e genocida passeia de moto, prega contra máscara e a favor da cloroquina, favorece a contaminação em “rebanho” (não apenas do seu), ridiculariza seu Ministro da Saúde, além de insistir em fazer “piruadas”, seja lá o que isso for. E a CPI começa a puxar fios incômodos, ao mostrar que por trás de tanto empenho na recomendação da droga aparecem interesses econômicos escusos de amigos do clã presidencial. Burrice ou método? Ignorância ou má fé? Antes pensei que podia ser apenas desinformação e limitação intelectual, mas hoje vejo que é a combinação de tudo isso. E como se não mais fizesse diferença, uma jovem negra, Kathleen, com um filho na barriga, teve sua vida ceifada no Rio de Janeiro, pela Polícia ou pela Milícia, tanto faz, que hoje no Brasil são quase a mesma coisa. Realmente, não dá mais pra aceitar coisas assim. Já sabemos quem pariu, mas já passou da hora de parar este monstro e todas as suas crias!]. Mas o assunto do dia é PARTICIPAÇÃO, palavra de muitos usos. “Participação em saúde”, é um bom exemplo…
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