Tenho em minha tela mais um documento firmado por representantes do setor privado em saúde (mas não só eles) com propostas para o novo governo que se inicia. Isso é motivo de regozijo e esperança para mim, pois acredito realmente que a separação “água e óleo” que historicamente domina a relação entre tais atores não mostra o melhor dos caminhos para resolvermos a problemática que nos cerca. Tenho escrito muito sobre isso aqui (ver alguns links ao final) e a pergunta que não se cala é: seria possível confiar nas associações do setor privado com o Poder Público? Sem querer dizer sim ou não, creio ser preciso não imaginar apenas que estaremos sempre enfrentando lobos em pele de cordeiro nesta questão. Sem dúvida, as distorções que a realidade mostra em toda parte e que dominam o imaginário dos militantes do SUS, não dependem apenas da voracidade empresarial capitalista, mas também de um somatório de corrupção, ineficiência e morosidade do Estado em cumprir seu papel. Com efeito, isso inclui ingredientes como monitoramento, rigor, ação just-in-time, assunção de noções como valor, economicidade, responsabilização, etc; além, é claro, de competência específica em fiscalização, auditoria e controle. Com este Estado frouxo (quando lida com poderosos, pelo menos) com que convivemos historicamente no Brasil, seria pouco provável obter sucesso em parcerias com o setor privado. É assim que muita gente pensa se não seria melhor deixar apenas aos cuidados do Poder Público aquela assistência rústica (para não usar palavras mais grosseiras) que ele oferece, deixando de lado, sempre e acima de tudo, o setor privado, por supor que com ele as coisas correriam de forma ainda pior. E feito este preâmbulo, vamos ao documento de propostas que foi citado acima.
Continue Lendo “A Saúde que devemos ter”Na saúde, a casa se arruma é pela porta da frente: o caso do DF.
Leio no Boletim Informativo da SES-DF do dia 9 de novembro pp que em nossa cidade a estratégia Saúde da Família supera 1,9 milhão de pessoas cadastradas, tendo o atual governo duplicado o número de equipes, em ação assumida como busca de novos recursos federais para a cidade, o que não deixa de ser legítimo. Ali se divulga também que nos últimos cinco anos o número de pessoas cadastradas cresceu quase nove vezes, já que pouco passavam de 200 mil no início de 2018. E se acrescenta: o número das equipes saltou de 300 para cerca de 600 no mesmo período, subindo também a contratação de servidores públicos em tal área, que hoje somam mais de sete mil profissionais. Fico feliz em conhecer tais informações, as quais já procurei sem sucesso na página da SES, mas o que importa é que elas estejam assim disponíveis agora. Mas mesmo assim algumas perguntas não querem calar, por exemplo: estas equipes estão completas, de agentes comunitários a médicos e enfermeiros? Houve qualificação adequada das pessoas contratadas? A velha fórmula de contratar profissionais aposentados ou não especializados ou com escassa afinidade à área continua prevalecendo? Estão sendo obedecidos os parâmetros quantitativos da Política Nacional de Atenção Básica, que prevê uma equipe (completa) de SF para cada 3.500 pessoas? As instalações físicas da rede são adequadas? Receio que boa parte de tais indagações tenham respostas negativas, quando não evasivas. Trago aqui algumas informações adicionais, que a SES não divulga, e vou comentá-las adiante. Me acompanhem.
Continue Lendo “Na saúde, a casa se arruma é pela porta da frente: o caso do DF.”Pela Saúde, pela Vida!
| Movimento sanitarista encontra-se com o novo governo Lula. O grupo de sanitaristas, intitulado Frente pela Vida, apresentou ao grupo de transição do Presidente eleito, propostas para interromper o desmonte do SUS e começar sua reconstrução. Tudo radicalmente diferente do que aconteceu em 2018… Alvíssaras |
Avante, Enfermagem!
Leio no Boletim Informativo da SES-DF (ver link abaixo) sobre a realização de um treinamento para de enfermeir(a)os, visando capacitá-los a reforçar, padronizar e aprimorar na atenção primária, dentro de uma estratégia de escuta qualificada das demandas dos usuários e aumento da capacidade de resolução nas UBS. O curso tem dinâmicas participativas, com propostas específicas para suas UBS, a serem desenvolvidas pelos próprios alunos. A finalidade principal é preparar cerca de 250 enfermeiros em práticas de acolhimento, para que possam dar soluções às queixas de pacientes eventualmente não agendados, além de aprimorar e humanizar o atendimento. Ótimo! Melhor, impossível! Tenho defendido aqui um papel diferenciado e estratégico para as enfermeiras e enfermeiros no sistema de saúde e acredito que os propósitos da SES-DF estão em perfeita sintonia com isso. Chega de considerar tais profissionais apenas como “paramédicos”, palavra que mais confunde do que esclarece os verdadeiros e mais legítimos atributos de tal categoria. Afinal, este “para” é o mesmo de paralelo, ou seja, o que está apenas “ao lado de alguém ou alguma coisa”. Mas, convenhamos, que tal ao invés de paralelismo começarmos a pensar em convergência e até mesmo em liderança em muitas ações de saúde? Aproveito para trazer de volta algumas das discussões sobre isso, que já estiveram presentes as comunicações semanais deste blog.
Continue Lendo “Avante, Enfermagem!”Parcerias público-privadas na saúde: confiar desconfiando…
Parcerias público-privadas no Brasil: assunto permanente na mídia e nas mesas de decisões do setor público, mas sempre causando alguma polêmica. Na saúde (e no DF), então, nem se fala… De minha parte, sou favorável a tais parcerias, mas ao mesmo tempo declaro-me partidário de um Estado competente e probo em contratá-las, fiscalizá-las e, se for o caso, denunciá-las e cancelá-las. E que seja, também, um Estado transparente e fiscalizável… O assunto vem à tona neste momento porque leio na mídia que está sendo promovido um grande mutirão de cirurgias realizadas em hospitais privados, mediante custeio provido pela SES-DF (ver link). Já foram atendidas mais de 3,2 mil pessoas nos últimos quatro meses, com procedimentos de hernioplastia, colecistectomia e histerectomia. Os recursos totais alocados estão na ordem de R$ 20 milhões e sete hospitais privados do DF se associaram à iniciativa: Águas Claras, Anchieta, Daher, Hospital das Clínicas, HOME, São Francisco e São Mateus. Pode ser que nem todos sejam tão santos como alguns de seus nomes indicam, mas se estiverem sendo fiscalizados e acompanhados de forma honesta e competente, tudo bem. O atendimento inclui não só a intervenção cirúrgica, como também a internação e as consultas pré e pós-operatórias. Os hospitais recebem de acordo com o número de procedimentos realizados (aí mora um grande perigo!). Vou comentar tal assunto, referente às parcerias público privadas em saúde, não pela primeira vez aqui no blog, mas agora tendo como foco um documento que uma entidade que congrega representantes da iniciativa privada em saúde no Brasil, o Instituto Coalizão Saúde (ICOS), vem divulgando, no qual estão incluídas propostas de ampliação de tais parcerias entre o Poder Público e o setor privado em saúde.
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