Tenho chamado atenção aqui e isso está claro também na literatura, inclusive internacional, sobre a contribuição da atenção primária à saúde (APS), aqui considerada em sua acepção completa e não improvisada, no controle da atual pandemia. Com efeito, fala-se muito em máscaras, álcool gel, isolamento social, testagens, vacina e outras medidas, todas muito importantes, mas também tal item estratégico, ou seja, a maneira como se organiza o modelo assistencial, deveria fazer parte de todas as recomendações relativas ao enfrentamento da atual situação. Esta representa, aliás, o maior problema sanitário que várias gerações viveram, seja no Brasil ou no Mundo. Mas falar de APS, ou melhor, de uma APS adequada, deve deve incluir obrigatoriamente: (a) responsabilização, em termos transversais e longitudinais, incidindo sobre pessoas, famílias e comunidade; (b) processos diferenciados de trabalho, que dizem respeito a equipes multiprofissionais, acompanhamento domiciliar, abordagem epidemiológica, acolhimento e utilização de indicadores de satisfação; (c) intervenções baseadas em evidências clínicas, epidemiológicas, sociais, financeiras; (d) atuação proativa, em termos de identificação e vinculo da clientela, além de coordenação do processos de atenção como um todo; (e) gestão da saúde em termos populacionais. A este respeito, a Organização Panamericana de Saúde no Brasil (OPAS), com apoio do Ministério da Saúde (o qual, se não atrapalhar, na atual conjuntura, já ajuda bastante) acaba de divulgar uma interessante coletânea de experiências, que você conhecerá a seguir.
Continue Lendo “Covid não é só uma questão de álcool-gel, vacina e isolamento…”CRM-DF contra o isolamento: seria cômico se não fosse trágico
Com atuação marcada por silêncio eloquente após um ano de pandemia, que já matou mais de 250 mil pessoas no Brasil e quase 5 mil aqui na nossa cidade, o Conselho Regional de Medicina do DF achou por bem vir a público para trazer sua contribuição à solução do problema. Divulgou, no dia 1º de março último, uma nota pública na qual condena taxativamente as medidas de intensificação de isolamento social determinadas pelo governo local. Para quem vinha sendo acusada de omissão face à pandemia eis um motivo para que tal entidade venha a ser lembrada no futuro. É um retrato do Brasil, por certo, mas por que justamente os médicos de Brasília (ou uma parte deles, seus representantes no CRM), resolve se antepor ao que é hoje resultado de generalizado senso comum, além de consenso científico internacional? Sabe-se lá… Os argumentos dos doutores são frouxos, risíveis. Apelam, entre outras boutades que comentarei a seguir, para a surrada versão dos prejuízos à economia. É reveladora aqui a verdadeira demonstração do DNA de tal inspiração. Já vimos e ouvimos isso repetidas vezes, pela boca do indivíduo que atualmente ocupa a Presidência da República. Seria subserviência? Irresponsabilidade? Ignorância pura e simples? Ou, sem sabe, uma mistura desses três predicados?
Continue Lendo “CRM-DF contra o isolamento: seria cômico se não fosse trágico”Com suas mutações de escape, é possível que o vírus se antecipe à vacinação…
Contrariando a rotina deste blog, aqui vai um texto que não é de minha autoria, mas sim de uma série de pessoas qualificadas, particularmente dentro do tema presente. Seus nomes aparecem ao final. “E assim acaba o mundo. Não com uma explosão, mas com um gemido”, concluía T. S. Eliot em “The Hollow Men”. Uma pandemia não é menos destrutiva que uma guerra. Pode, no entanto, ser desqualificada, total ou parcialmente. Sejamos claros: em nenhum momento a Covid-19 assolou o Brasil como agora. Crescem as internações e mortes. Disseminam-se variantes virais, provavelmente mais transmissíveis e talvez causando doença mais grave. Pior: é possível que essas variantes escapem à imunidade conferida pelas vacinas. Que essa não é uma situação sem esperança demonstram os exemplos da Nova Zelândia, Alemanha e Espanha. E o movimento coerente (ainda que tardio) do município de Araraquara (273 km de SP). Porém, vivemos uma epidemia de cegueira que ultrapassa as previsões de Saramago. O pacto coletivo de autoengano consistia em negar o que ocorre na Europa. Agora se estende a ignorar o colapso da cidade vizinha. Como entender que Araraquara e Jaú estejam em lockdown enquanto Bauru, a 55 km da última, faz passeatas pelo direito à aglomeração?
Continue Lendo “Com suas mutações de escape, é possível que o vírus se antecipe à vacinação…”A Atenção Primária à Saúde no controle da Covid-19: experiências e análises no DF
Registro aqui hoje, com real satisfação, três artigos publicados na recém lançada Revista HRJ, sobre a qual já comentei aqui. A revista e também os autores de tais artigos são ligados à Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) da SES-DF e trazem à luz importantes contribuições ao entendimento das estratégias de atenção à presente pandemia. Com efeito, o panorama de informações sobre tal fenômeno, de um lado, digamos “do bem”, é muito enfático a respeito de uma tríade, constituída por medidas de isolamento, uso de máscaras e vacinação (quando esta estiver disponível). Do outro lado, este o mais maléfico possível, “capitaneado” por autoridades diversas, estão a prescrição de cloroquina, de ivermectina, do remédio israelense, além de desprezo e negligência face ao potencial incapacitante e letal do vírus. Mas mesmo naquelas recomendações “sensatas”, creio que tem faltado enfatizar uma cristalina verdade, confirmada nos quatro cantos do mundo, qual seja a relevância que possuem os sistemas de saúde organizados com base na atenção primária no controle da situação pandêmica que atravessamos e de seu enorme custo material e humano. É disso que tratam os artigos aqui analisados neste momento, com a vantagem que traduzem visão e também experiências que têm como sede a nossa cidade.
Continue Lendo “A Atenção Primária à Saúde no controle da Covid-19: experiências e análises no DF”No meio de tanta desgraça, coisas boas acontecem no DF
Como disse Portinari ao Duque de Edinburgh: Não pinto flores, só pinto miséria… Está difícil NÃO falar de Covid aqui no DF, onde a doença já matou até o dia 1º de abril último (e não é mentira) , 6.150 pessoas, com quase 350 mil casos confirmados. Não há rigorosamente flores, ou melhor, notícias boas no cenário. Vasculhando, porém, a internet, verifico que há uma informação que não chega a ser rigorosamente nova, mas sim de meados do ano que passou, mas que continua merecendo divulgação e louvor – ainda mais em momento com o presente. Eis que a nossa cidade conquistou o primeiro lugar em índice denominado de Município Amigo da Primeira Infância (Imapi), através do qual são avaliados 31 indicadores sociais e de saúde, que incluem a oferta de políticas públicas e de ações, serviços e práticas familiares voltados ao desenvolvimento infantil em termos de saúde, nutrição, cuidado responsivo, aprendizagem inicial, segurança e proteção. Isso foi obtido através do Programa Criança Feliz Brasiliense, o qual, ao contrário do que eu, pelo menos, esperava, NÃO se trata de uma ação da SES-DF, mas sim da Secretaria de Desenvolvimento Social. Tudo bem, desde que aconteça de fato, o locus institucional não importa. Em tal programa, a finalidade é apoiar as famílias em seu papel protetivo, além de ampliar a rede de atenção e cuidado para o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância, contando, para isso, com visitas domiciliares, articulação intersetorial, fomento de habilidades das mães com o cuidado relacionados à vacinação em dia; nutrição, a alimentação diária adequada por fase da vida; incentivo à capacidade dos responsáveis, pais ou cuidadores em perceber, entender e responder os sinais das crianças de maneira apropriada, além de foco na oportunidade de integrar pessoas, locais e objetos no acesso à escola na faixa etária adequada e também segurança e proteção, ofertando ambientes seguros dentro e fora de casa. Este programa atua em nada menos do que 100 creches, públicas ou conveniadas, nas quais são atendidas atendem mais de 23 mil crianças, com componentes de educação precoce e acompanhamento especial desde os primeiros dias de vida,
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