Em termos formais, parece que a atuação pública e a privada em saúde, no Brasil, estão irremediavelmente apartadas. Desconfianças recíprocas alimentam tal dissensão, algumas fundadas em fatos bem reais. Assim, um lado vê, no outro, fonte inesgotável de corrupção; o outro retruca com acusações de ganância e desumanidade – para dizer o mínimo. Mas na era de incertezas em que vivemos, para o bem ou para o mal, não custa nada indagar: tem que ser assim sempre? Pensando nisso, resgato algumas coisas que vi e ouvi, convidado que fui a uma reunião do lado “deles”, ou seja, um simpósio organizado pela Confederação Nacional da Indústria, em novembro de 2018, para buscar entre seus associados, consensos a respeito de como buscar ou prestar serviços de saúde mais qualificados (e menos onerosos, claro) a seus funcionários. O foco era os serviços médicos empresariais, aliás, muito frequentes e atuantes em empresas médias e grandes, com oferta de grande volume em consultas e procedimentos diversos. Segue um resumo do que ouvi por lá, com uma tentativa de síntese e conclusões ao final. Continue Lendo “Saúde publica e privada: um diálogo possível?”
Por uma atuação realmente avançada da Enfermagem em nossos serviços de saúde
Já vi gente acreditar que a expressão “paramédicos”, mais utilizada nos EUA e outros países do que aqui no Brasil, por sinal, significaria algo como “para, a favor, em auxílio dos trabalhos médicos”. Na verdade, este “para” que está aí é o mesmo que está na palavra “paralelo” e com isso o assunto ficaria definido? Penso que não. O que quero discutir aqui não é exatamente a anteposição de uma acepção (falsa) versus a outra, supostamente “correta”. Acho que precisamos – nós todos que somos envolvidos com a atenção primária à saúde e, principalmente, a nobre categoria da enfermagem – ir além. Enfim, nem “para” nem “para…”, mas sim encarar a autonomia e as responsabilidades verdadeiramente cruciais (e mais: insubstituíveis e jamais apenas “paralelas”) de tal profissão no bom desempenho dos serviços de saúde. A OPAS e OMS acabam de lançar um material essencial sobre tal assunto, o livro “Ampliação do papel dos enfermeiros na atenção primária à saúde”. Ler mais… Continue Lendo “Por uma atuação realmente avançada da Enfermagem em nossos serviços de saúde”
O SUS vive!
Hoje vamos abrir uma exceção e publicar uma entrevista com um terceiro, fugindo da rotina deste blog. Mas trata-se de uma pessoa notável, amigo de muitos brasileiros, do Brasil e do SUS. Ele é Renato Tasca, italiano de Turim e responsável pela área de serviços de saúde da OPAS no Brasil. Mais brasileiro do que muitos brasileiros! Ele falou à jornalista Cristiane Segatto sobre o momento atual do nosso SUS, segundo ele um dos maiores programas sociais não só do Brasil como do mundo todo. Ele é taxativo “ na maioria dos países e, sobretudo, naqueles do tamanho do Brasil (China e Índia), não existe nada como o SUS. Se o pobre quiser uma cura, tem que pagar. Ter um SUS é o grande sonho de consumo dos cidadãos de muitos países. Nos Estados Unidos, o número de famílias que se ferram, que perdem tudo por causa de contas de hospital é enorme”. E prossegue: “é uma pena que hoje todo o esforço na criação e desenvolvimento do sistema não seja reconhecido. Hoje as pessoas acreditam mais em fake news do que em um artigo científico publicado no The Lancet. Não podemos desistir. É preciso acabar com a narrativa de que o SUS não funciona”. Bem no seu estilo, arremata: “O SUS está vivinho da silva…” Veja a entrevista completa no link: https://cristianesegatto.blogosfera.uol.com.br/2019/11/20/o-sus-esta-vivinho-da-silva-e-o-sonho-de-consumo-em-muitos-paises/
Autonomia e flexibilidade: quem não deseja isso no Serviço Público?
A gestão de serviços de saúde por administração estatal direta não é certamente a mais racional, em termos de autonomia e flexibilidade, mas é o que acontece na maioria das situações no Brasil. Aqui no DF, embora a situação mais comum seja esta, as coisas começam a mudar, com a vigência de contrato com o Icipe (Hospital da Criança), uma Organização Social – OS, e a criação de uma nova instância de gestão, o Iges, um Serviço Social Autônomo – SSA. Polêmicas não faltam, principalmente entre sindicalistas, oposição na Câmara Legislativa e certos setores ideológicos hard do Ministério Público. Mas é hora de encarar as coisas de frente, com clareza, sem preconceitos e sem ideologia – ou pelo menos dentro da boa ideologia da relevância da coisa pública e do interesse da sociedade. Eu acredito que isso seja possível. Alguns argumentos… Continue Lendo “Autonomia e flexibilidade: quem não deseja isso no Serviço Público?”
Atenção Primária à Saúde no Brasil: um retrato em movimento
Como já comentei aqui, cerca de 1,3 mil iniciativas em atenção primária à saúde concorreram ao Prêmio APS Forte, estabelecido pela OPAS, Ministério da Saúde, Conasems, Conass e Conselho Nacional de Saúde. O prêmio procurou valorizar, sistematizar e divulgar experiências que ampliam o acesso do cidadão ao Sistema Único de Saúde. Dentre este total, 135 foram indicadas para premiação e 11 foram finalistas. Uma seleção final, realizada por uma banca de comunicadores e especialistas, indicou três vencedores, sendo as oito restantes também consideradas como premiadas. As recomendadas para o prêmio (135); e as finalistas (11) vão compor uma publicação técnica editada pela OPAS. Estas 11 experiências certamente representam um retrato do que acontece na realidade brasileira, pois provêm de todas as regiões do país, originadas de um certame que mobilizou a totalidade dos estados e várias centenas de municípios, de todos os portes, características econômicas, geográficas e políticas, sendo selecionadas através de um processo criterioso e operado por gente que entende do assunto. Cabe trazer alguma informação e uma breve análise sobre as mesmas. Continue Lendo “Atenção Primária à Saúde no Brasil: um retrato em movimento”
