Seriam os médicos do DF pouco produtivos?

No estudo sobre a chamada Demografia Médica no Brasil (DMB) que venho comentando aqui nas duas últimas semanas, chamou minha atenção (e certamente também dos leitores) que a produtividade médica em nossa cidade, em termos de consultas oferecidas por ano, é simplesmente a menor do Brasil. Ao mesmo tempo que o rendimento per capita é o maior. É isso mesmo que você leu! Mas seria assim mesmo na realidade? É o que procurarei elucidar neste post.  Seguindo o estudo DMB, mais de 600 milhões de consultas médicas são realizadas por ano no Brasil, o que corresponde aproximadamente a três consultas por habitante o que, considerando o número atual de médicos no país, dá a cada profissional a realização média, de 1.260 consultas anuais. No DF tal cifra não passa de 600, ou seja, menos da metade disso. O estudo mostra também que as disparidades entre regiões e entre os setores público e privado da saúde são bastante significativas, não só aqui mas no país como um todo. Em termos conceituais, consultas referem-se a contatos diretos de pacientes com médicos, sejam generalistas ou especialistas, realizados tanto em serviços públicos como privados, em ambientes diversos, compreendendo anamnese, exame físico, conclusões diagnósticas, solicitação de exames e prescrição. Consultas podem ser concluídas, ou não, em um único momento, mas podem envolver tanto o encontro pessoal entre médico e paciente, como serem mediadas por tecnologias. Vamos a alguns dados e explicações.

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Demografia Médica no Distrito Federal

Quantos e quais tipos de médicos estão disponíveis no DF para atuar no sistema de saúde? E quantos o serão nos próximos anos? Qual parte desta oferta de profissionais responderia às demandas locais do SUS? Como isso se coloca em termos absolutos e comparativos com as outras unidades federativas do país? Estas e outras perguntas estão respondidas e analisadas no estudo Demografia Médica no Brasil (DMB 2023), originado no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e que agora apresento aos leitores, com o recorte correspondente ao DF. Antes de detalhar, vamos às linhas gerais das conclusões do estudo. São inúmeras as “vantagens” da situação do DF em termos de sua força de trabalho médica, mas que devem ser consideradas apenas dentro de um contexto quantitativo, em outras palavras, de números expressivos, que não traduzem, nem de longe, o quadro da qualidade do atendimento prestado, da qualidade da formação auferida, da distribuição de profissionais onde mais se fazem necessários etc. Apesar dos números muitas vezes pujantes, em relação à realidade dos demais estados e capitais do Brasil, é preciso admitir que muitas das distorções verificadas nas mesmas também se aplicam á realidade local, por exemplo, em relação à distribuição geográfica e garantia de um quadro de competências e especialidades profissionais adequadas às realidades epidemiológica e institucional do DF. Entre tais números expressivos e chamativos de atenção estão, não só a taxa de médicos per capita, comparável, no DF a países e realidades onde tais cifras são das mais altas, mas também a projeção de crescimento da força de trabalho médico proporcionalmente à população, para as próximas décadas, aspecto em que, mais uma vez a distância da realidade local em relação ao que se prevê para o restante do país é bastante notável. Entretanto, é preciso lembrar que, no capítulo das desigualdades, o DF apresenta posição desfavorável, aqui existindo muito mais recursos à disposição de usuários privados do que de usuários exclusivos do SUS. Vamos a algumas das informações trazidas pelo estudo.

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Médicos no Brasil: quantos, onde, como e para qual finalidade?

Quantos e quais médicos estão disponíveis no Brasil para atuar no sistema de saúde? E quantos serão nos próximos anos? O que mudou na formação e no trabalho médico no país? A maior oferta de profissionais na última década responde às demandas do SUS? Idem para as regiões desassistidas e as necessidades de saúde da população? E o caso do DF, como está em termos absolutos e comparativos com as outras unidades federativas do país? Estas e outras perguntas estão respondidas e analisadas no estudo Demografia Médica no Brasil (DMB 2023), originado, em 2011, no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, agora em sua sexta edição, contando com parcerias diversas, entre as quais se incluem a Associação Médica Brasileira, a OPAS e outras entidades, tendo se tornado referência obrigatória sobre medicina no Brasil. E também pela utilização da palavra demografia, antes restrita à população em geral, transformada em variável importante na análise da distribuição de determinados grupos sociais e profissionais. A necessidade de compreender a população de médicos no Brasil – numerosa, diversificada e em evolução – e sua implicação para o SUS determinaram o surgimento e a consolidação de tal assunto também como linha de pesquisa, incluindo aí o perfil, a evolução e a mobilidade populacional no tempo e no espaço da profissão, além de se ocupar da interação entre população, desenvolvimento econômico e força de trabalho. Aqui vai um resumo de tal estudo. As questões relativas ao DF serão abordadas em textos subsequentes, sempre aos sábados, como de costume neste blog.

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Entorno, mais uma vez…

Tenho tratado da questão do Entorno aqui neste blog por vezes sucessivas. O foco maior dos problemas, para mim, é a maneira um tanto superficial, bem longe de se transformar em prioridade, com que as sucessivas administrações do DF vêm tratando a questão. Aliás, do outro lado da mesa, em Goiás, também. Estabelece-se, assim, um jogo de empurra, que junta fome com vontade de comer – na verdade ações (ou falta delas) presentes nos dois lados. Vejo no Correio Braziliense desta semana (ver link) uma abordagem diferente da habitual, com moradores da região do Entorno – e não políticos ou burocratas – se posicionando sobre como vêm a atuação do GDF em relação a seus problemas. Ênfase maior é colocada nas políticas de Saúde e de Transporte, mas dentro de um contexto que se extrapola para muitas outras ações de governo. Há uma proposta, ainda dos anos 90, que é a da criação de uma Região de Desenvolvimento Integrado (RIDE), abrangendo duas dezenas de municípios, proposta carregada de boas intenções, mas que nunca saiu do papel. Uma alternativa que começa a ser discutida em anos recentes procura superar o conceito de RIDE, demasiadamente amplo em sua extensão geográfica, para colocar foco em uma Periferia (ou Área) Metropolitana de Brasília (PMB), com12 municípios. Pode ser um bom recomeço para discussões que estão paradas há tempos. Como exemplos da situação existente, o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) estima a presença de 826 mil pessoas residentes em tal área, das quais 17,92% buscam serviços de saúde no DF, 8,98% dos jovens estudam em instituições da capital do país e 36,14% dos trabalhadores têm emprego no DF. Vamos conversar sobre isso nas linhas abaixo.

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A Saúde em Perspectiva: Brasil x Mundo; Situação 2022 x Tendências 2023

André Cezar Medici é mestre em Economia, doutor em história econômica e economista de saúde sênior do Banco Mundial. Tem se dedicado, há mais de 30 anos, a temas como economia e reforma de saúde, planejamento estratégico e prioridades de saúde, contribuindo para desenhar e melhorar as reformas de saúde em países da América Latina. No Brasil, desempenhou um papel fundamental no planejamento, desenvolvimento e implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Eu o conheço há pelo menos uns 30 anos e creio que na minha geração a maioria me acompanha na admiração por ele. Destaco aqui um artigo recente de André, no qual a situação atual da saúde no Brasil, que aqui neste blog é objeto de frequentes análises é destrinchada, da competente e muito bem escrita que lhe peculiar. Vamos ao texto, aqui resumido para facilitar o alcance dos leitores. O link para acesso completo segue ao final .

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