Em artigo recente neste blog, intitulado com alguma ironia de Conta de mentiroso (ver link abaixo) delineei alguns princípios que deveriam nortear as ações do novo governo a ser eleito em dois de outubro (mesmo que seja o mesmo…). Nele, apontei alguns princípios que deveriam nortear o modelo de gestão da SES-DF, com ênfase na noção de VALOR. Sobre isso, adianto alguns detalhes aqui. Como todo mundo sabe, no SUS e nas questões de saúde e em geral, tudo é tratado com base em números. O que importa são quantidades, seja de consultas, exames, horas trabalhadas, leitos ocupados, altas concedidas, recursos transferidos, pagamentos de serviços – seja lá o que for. Mas existem outras maneiras de se aferir o trabalho realizado pelos sistemas de saúde. Mas esta discussão deve se iniciar com uma premissa inarredável, a de que o que se almeja é recompensar, seja instituições ou pessoas, pelo favorecimento real que oferecem aos pacientes (que devem estar no centro da equação), no sentido de melhorar sua saúde, reduzir a incidência e os efeitos das doenças, viver vidas mais saudáveis, enfim. Sempre de forma baseada em evidências, não em “achismos” de qualquer natureza.
Continue Lendo “Por que não uma saúde baseada em Valor(es)?”Saúde em Portugal 2022
Eis que volto a Portugal. Aqui é tudo ao mesmo tempo, agora! Junta-se assim o moderno e o arcaico; o natural e o construído pelo homem; o simples e o complexo; a gente rica e a remediada, pois não se chega a ver pobreza total e irremediável por aqui. Nem tudo são flores, claro, e alguns brasileiros e outros imigrantes, africanos principalmente, já estão sentindo o peso da intolerância e do preconceito, mas certamente muito menores do que neste filho grande e bobo que a Terra Mãe gerou. Mas que país será este, tão conhecido e ao mesmo tempo ignorado por nós brasileiros. Será um espelho onde poderíamos ver refletidas algumas de nossas vergonhas? Na saúde, por exemplo. Em 2011 eles estavam simplesmente quebrados, como nós, hoje ou quase sempre. E passaram o chapéu, rendendo-se ao polêmico acordo firmado com o FMI, Banco Central e Comissão da União Europeia – a famigerada Troika. Foi assim aplicado ao país o amargo remédio da austeridade.
Continue Lendo “Saúde em Portugal 2022”Que não seja apenas mais uma conversa de mentiroso…
Pintar o sete, bicho de sete cabeças, guardado a sete chaves, enterrado a sete palmos, as sete notas musicais, o sétimo dia da criação, os sete pecados capitais, as sete maravilhas do mundo, as sete cores do arco-íris, os sete dias da semana, os sete sábios da Grécia antiga, Branca de Neve e os sete anões, as sete vidas do gato, as sete virtudes, os sete samurais, Sette Bello, sete de ouros, sete de setembro (que os deuses nos protejam nesta efeméride em 2022!). SETE, eita numerozinho afamado! Como está aberta a temporada eleitoral (apenas formalmente, porque na prática já começou há muito tempo…) desejo trazer aqui minha contribuição aos candidatos ao Executivo e Legislativo no DF, através de propostas relativas à saúde pública em nossa cidade, aqui também organizadas em sete categorias. Antes que me lembrem que SETE é também conta de mentiroso, auguro: que a verdade prevaleça nessas eleições; que os compromissos assumidos por nossos políticos sejam devidamente honrados – e que eles sejam cobrados seriamente quanto a isso.
Continue Lendo “Que não seja apenas mais uma conversa de mentiroso…”Ainda é tempo de pandemia..
Mais de 700 mil vidas perdidas no Brasil e o patético troglodita do Palácio do Planalto propaga que fez a coisa certa, entre uma ou outra referência à cloroquina e um lampeiro beija-mão concedido ao Conselho Federal de Medicina. Mas há coisas mais sérias no cenário. Por exemplo, matéria divulgada no The Lancet (não se trata de uma publicação comunista…), no qual se propõe novas estratégias para conciliar políticas de saúde e de desenvolvimento sustentáveis no período pós pandemia, que começa a raiar no horizonte. Seu conteúdo, naturalmente, se coloca em sentido totalmente contrário ao que divulgam as autoridades brasileiras, em seu notório charlatanismo mal informado e sobretudo mal-intencionado, que multiplica nossa vergonha perante o mundo. Ali se fala da construção de um futuro pós-pandêmico, no qual se deverá promover e proteger a saúde de todos os cidadãos, dentro da pressuposição de que os eventos atuais têm muito a ensinar. Os autores, especialistas de uma ampla variedade de origens institucionais e geográficas, foram reunidos pela Organização Mundial da Saúde, e se alinham a uma agenda ambiciosa para alcançar um futuro saudável e seguro para todos. Eles começam falando de como crises como os ataques de 11 de setembro de 2001, as consequências do conflito e da migração, a crise financeira de 2007 e a pandemia COVID-19 afetaram a situação social no mundo. A pandemia, como se sabe, se espalhou rapidamente entre os países, embora nem todos tenham sido afetados da mesma forma.
Continue Lendo “Ainda é tempo de pandemia..”André Viana partiu…
Esta semana perdemos André Viana. Ele talvez seja um dos raros casos no Universo de um cirurgião que depois de anos de prática (e de ensino) em sua especialidade se baldeia para o campo da psicanálise – em si e para os demais. Eu o conheci nos anos 90, quando passei pelo Conselho Administrativo do Hospital da UnB, do qual ele era diretor. Logo me aproximei daquele sujeito comunicativo e bem-humorado, sempre vestido com indumentária peculiar: tênis colorido, calça formal, camisa social, jaleco e gravata. Mas o melhor dele ainda estava por conhecer, sua iniciativa de criar uma sessão semanal especial para os calouros de medicina, dentro mesmo do HUB, que ele denominava como “um lugar para se discutir coisas que não estão no currículo de medicina”. E ali se conversava sobre a melhor literatura, filmes, fatos do dia a dia e da política. Havia eventuais convidados, entre eles eu, muito honrosamente, aliás, recém-chegado ao Conselho. Nas segundas feiras, ao final da tarde, o auditório do Hospital, acostumado a outro tipo de debate, se lotava daqueles jovens de olhos brilhantes, numa pausa especial a anteceder sua entrega aos ritos burocráticos e monocromáticos do curso de medicina. Além de bem-humorado, André era culto e dotado de um olhar abrangente para a vida. Gostava de operar gente, sem dúvida, mas ao mesmo tempo possuía especial atração pela arte, pela literatura, por bons vinhos, para a boa conversa e as frases de efeito. Perdemos o contato após sua aposentadoria, em meados da primeira década do século, mas recentemente nos reencontramos nas ondas da blogosfera, ele com seu “Louco por cachorros”, eu com o meu “A saúde no DF tem jeito”. Em tais espaços, tanto ele como eu, frequentemente íamos muito além do que nossos respectivos rótulos indicavam. Grande André Viana! Saúdo aqui, com saudade e respeito, a este cara imprescindível, para dizer pouco. Que falta sempre nos farão essas pessoas que são capazes de olhar muito além de seu quadradinho profissional, embora neste espaço também tenham feito coisas admiráveis. André foi uma dessas benditas pessoas capazes de ver a vida além, bem além, da moldura do cotidiano.
