A frase que dá título a este post é na verdade um plágio. A versão original fala de “fim do mundo” e seu autor é o mineiro Ailton Krenak, liderança indígena pertencente à etnia que lhe dá o sobrenome. Para quem ainda não o conhece, ele surgiu para o mundo em 1987, quando fez um pronunciamento na Assembleia Nacional Constituinte, em defesa dos direitos indígenas, com o rosto pintado com tinta preta de jenipapo. Na obra em foco ele denuncia a ideia de humanidade como algo separado da natureza, criticando com ironia sutil o modo de viver adotado pelos brancos, arrancados que foram de seus grupamentos originais para serem “jogados nesse liquidificador chamado humanidade”, abrindo mão da liberdade do contato e da harmonia com a natureza, deixando de respeitá-la como mãe. As tais “ideias para adiar o fim do mundo” referem-se ao fato de que os indígenas sempre usaram sua criatividade e sua poesia para resistir à barbárie da dita “civilização” que lhes foi imposta, com a suposta integração a uma espécie de clube selecionado, dentro do modo branco e europeu de ser. Foi assim que, segundo ele, os indígenas lograram postergar o Apocalipse, através de sua resistência continuada, fazendo com que sobrevivam hoje no Brasil cerca de 250 etnias e 150 diferentes idiomas. “A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos”, diz ele. E na Saúde, o que se pode oferecer de resistência para vencer o holocausto anunciado, que para muitos brasileiros já chegou? Antes de prosseguir nessas divagações inspiradas nos escritos de Krenak, cabe lembrar uma de suas frases, e tentar ser mais modesto: “Não é a primeira vez que profetizam nosso fim; enterramos todos os profetas”. Nada de profecias ou fantasias desejosas, portanto, pretendo me ater à realidade…
