Atenção Primária à Saúde e Saúde da Família

As origens da atenção à saúde do grupo familiar remontam, como se sabe, aos primórdios da medicina. Durante muitos séculos, com efeito, na vigência do modo artesanal de prática médica, o locus preferencial da atenção era o consultório dos médicos que, não raro, se situava no âmbito da própria residência destes profissionais. Alternativamente, o cuidado era prestado nos domicílios dos pacientes, sob as vistas diretas das famílias e, não raramente, com sua participação direta no processo de cura. No Brasil, a implantação da política de saúde denominada de Saúde da Família a partir de meados dos anos 90 teve como substrato conceitual a noção de Atenção Primária à Saúde (APS), nos termos que é definida em documentos da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1978). É preciso definir, de início, os diversos elementos conceituais que distinguem o que se chama hoje de práticas em “Saúde da Família”, demonstrando, ao mesmo tempo sua vinculação conceitual com a APS.

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Dialética do exagero, jogo político e saúde

Dialética do exagero, sabem o que é? Quando uma mãe adverte que seu filho “ vai quebrar o pescoço” se não descer do muro – mesmo que tal muro não tenha mais do meio metro de altura. Isso na melhor e mais nobre das intenções, porque tem também um outro extremo, aquele que do sujeito que ameaça que se não tivermos urnas físicas e voto impresso auditável em 2022, aquela invasão do Capitólio vai se repetir aqui no Brasil, com consequências ainda piores. Variante: quem tomar vacina contra Covid vai virar jacaré. Se no primeiro caso é o amor de mãe que se manifesta de modo perfeitamente aceitável, embora com ingênuo exagero, no outro impera a desfaçatez, a desonestidade intelectual, o autoritarismo e o apego puro e simples à mentira. É preciso não confundir as coisas, portanto, pois o fato é que existe uma grande distância entre um gesto e outro; de um lado, o cuidado materno, do outro intenções de genocídio. Mas devemos nos acautelar também para que tais arroubos de argumentação não venham turvar também a defesa de causas justas, por exemplo, a defesa do SUS que nós, pessoas de bem, costumamos praticar. Penso que a melhor defesa que podemos fazer de alguma coisa em que acreditamos é argumentar com a verdade, sem exageros. Tomo aqui, como exemplo, a discussão recente sobre a criação, pelo Governo Federal, de uma espécie de agência para a Atenção Primária à Saúde, que causou fortes arrepios e até mesmo indignação nos setores que defendem o nosso sistema de saúde, os quais, como aliás deveria ser, são fortemente ligados a uma visão política de esquerda.

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Vacina, máscara, álcool, distanciamento – mas ainda falta algo…

O que faltaria, afinal? Eu poderia estar falando de responsabilidade social e solidariedade, para de imediato trazer à conversa a delinquência contumaz desse indivíduo doentio que ocupa a presidência da república, que nunca teve representação tão minúscula como ora se vê no Brasil. Mas isso já virou assunto batido, aqui e alhures, ainda não superado, embora, para nosso consolo, outubro de 2022 venha aí. O tema aqui é outro, qual seja, a maneira como se organizam os serviços de saúde, seja em termos locais (principalmente), nacionais ou globais, com o efeito disso sobre o controle da Covid-19.  Trago aqui excelente artigo de gente que conheço de perto (ver link ao final) – e que realmente entende do assunto – no qual analisam experiências brasileiras de Atenção Primária à Saúde (APS) no enfrentamento da atual pandemia de Covid-19, demonstrando que a tal organização do modelo assistencial em saúde, particularmente na porta de entrada do sistema, é fundamental para o sucesso das medidas de prevenção, proteção e controle. Assim, há mais coisas no cenário do que apenas vacina, máscara, álcool, distanciamento. Precisamos ter também um modelo de saúde adequado, com responsabilidade social e solidariedade, junto com uma sociedade consciente e disposta a cobrar o que lhe é devido.

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Saúde publica e privada: um diálogo possível?

Em termos formais, parece que a atuação pública e a privada em saúde, no Brasil, estão irremediavelmente apartadas. Desconfianças recíprocas alimentam tal dissensão, algumas fundadas em fatos bem reais. Assim, um lado vê, no outro, fonte inesgotável de corrupção; o outro retruca com acusações de ganância e desumanidade – para dizer o mínimo. Mas na era de incertezas em que vivemos, para o bem ou para o mal, não custa nada indagar: tem que ser assim sempre? Pensando nisso, resgato algumas coisas que vi e ouvi, convidado que fui a uma reunião do lado “deles”, ou seja, um simpósio organizado pela Confederação Nacional da Indústria, em novembro de 2018, para buscar entre seus associados, consensos a respeito de como buscar ou prestar serviços de saúde mais qualificados (e menos onerosos, claro) a seus funcionários. O foco era os serviços médicos empresariais, aliás, muito frequentes e atuantes em empresas médias e grandes, com oferta de grande volume em consultas e procedimentos diversos. Segue um resumo do que ouvi por lá, com uma tentativa de síntese e conclusões ao final. Continue Lendo “Saúde publica e privada: um diálogo possível?”

Aqui e agora x nem agora nem aqui…

O triste espetáculo das grandes filas matinais na porta das Unidades de Saúde, formadas muitas vezes durante a madrugada, presentes não só aqui no DF como em muitas partes do Brasil, ao ponto de terem se tornado “partes da paisagem” urbana para muita gente, não reflete apenas o estado de desorganização e precariedade dos nossos serviços de saúde. A questão fundamental é a de que muita gente que está ali não devia ou não precisava estar. Como assim??? O leitor crítico e incrédulo certamente me questionará, com direito não a apenas um, mas a três pontos de interrogação.  Continue Lendo “Aqui e agora x nem agora nem aqui…”