Quando escrevi minha tese de doutorado, defendida em 2002, analisei seis experiências brasileiras bem sucedidas do Programa de Saúde da Família e chamei atenção para um fator diferencial positivo presente em algumas delas, como as de Curitiba, Porto Alegre e Niterói, qual seja a presença no cenário daquilo que chamei de comunidades epistêmicas em saúde, formadas por pesquisadores, docentes e especialistas de universidades e de outras instâncias, que colaboraram com os órgãos gestores locais seja na discussão das propostas, na assessoria ou até mesmo no exercício de cargos de confiança e comando. Já naquela época – e ainda agora – percebo como estamos longe disso aqui em Brasília. Um indicador de tal fato é que não tivemos até hoje por aqui nenhum Secretário de Saúde, independente de outras qualidades que possuísse, que fosse também docente, especialista ou pesquisador em áreas correlatas à saúde pública, ou que de alguma forma influísse na política de saúde local. Posso até me lembrar um caso isolado, o do meu amigo Carlo Zanetti, docente de Saúde Coletiva na Odontologia da UnB, que por alguns meses ocupou uma Superintendência Regional da SES-DF no governo Rollemberg, tendo logo se afastado, pelas suas qualidades, não pelos seus defeitos certamente. Mas creio ter sido ele o único com tal perfil. Na presente pandemia, com a imprensa ávida por informações mais precisas, vejo que algumas pessoas com raízes acadêmicas têm sido procuradas para entrevistas, eu inclusive, mas acredito que sejam exceções, mais do que a regra geral.
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