O Governo do Distrito Feral se antecipou nacionalmente, ao decretar isolamento e quarentena desde meados de março. Manifestei-me em contrário na ocasião, achei precipitado, mas depois dei o braço a torcer. Nestes tempos “pandemônicos” mudar de opinião pode ser uma virtude… Pena que para muitos, por exemplo para a mais alta autoridade da República, isso não esteja sob cogitação. Ou melhor, mudar de opinião até que este aí sempre muda, mas sempre para pior… Mas feita a ressalva de que Ibaneis e sua equipe de fato tinham razão, em que pese o desembarque (ou seria defenestração?), neste meio tempo, do Secretário Okumoto, por razões não esclarecidas, cabe analisar, agora com o olhar neutro do cidadão e sanitarista preocupado com a saúde em nossa cidade, como anda a epidemia por aqui, não só em termos da curva do número de casos, como também na razoabilidade das medidas tomadas pelas autoridades. Continue Lendo “Coronavirus: o GDF estaria fazendo a coisa certa?”
A Peste e a Pandemia: reflexões à luz de Albert Camus
Albert Camus, escritor de língua francesa, nasceu na Argélia, em 1913 (morreu em 1960), filho de família pobre. Ele era um “pied-noir”, na preconceituosa expressão utilizada pela elite de então. Viveu os conflitos da descolonização da Argélia, espectador da luta feroz de todos contra todos, fossem argelinos ou franceses, muçulmanos ou cristãos, da extrema direita ou das esquerdas de qualquer latitude e coloração. Teve uma vida movimentada, seja como escritor, jornalista, filósofo, divulgador de ideias e, principalmente, militante, embora de uma variedade cética. Homem ligado à esquerda, tendo inclusive lutado entre os Partisans na Segunda Guerra, nem por isso escapou da oposição dos comunistas e inclusive rompeu com J. P. Sarte, de quem era amigo, por este motivo. É que ele apreciava e levava a sério a frase do poeta americano Walt Whitman, a quem muito admirava: “sem liberdade, nada pode existir”. Um de seus livros mais famosos, A Peste, narra o decurso de uma epidemia em Orã, na Argélia, onde ratos mortos são encontrados de forma progressiva nas ruas e nas casas, principalmente entre as famílias mais pobres, não por acaso, árabes. As autoridades decretaram um “estado de praga”, com os muros da cidade sendo fechados e se impondo uma quarentena à população. Buscar em tal romance um paralelo com a situação atual da pandemia de coronavírus é algo irresistível… Continue Lendo “A Peste e a Pandemia: reflexões à luz de Albert Camus”
Frágeis, demasiadamente frágeis…
Tempos difíceis estes de coronavirus, sem dúvida. Mas no meio de tanta incerteza, de tantos temores, vamos nos consolar com a oportunidade que estamos tendo, nós todos, de podermos refletir um pouco sobre nossas vidas, sobre nossa condição, sobre o que será de nós depois que tudo passar (porque vai passar!). No deserto da quarentena, sem dúvida, é possível encontrar algum oásis. Eu, por exemplo, tento fazer isso. Quando nada, ocupo meu tempo e até mesmo, em termos práticos, chego a encontrar algumas possíveis iluminações sobre o modo de vida com o qual chegamos até aqui. Que desconfio talvez se perpetue. Ou, pelo menos, que a vida de agora em diante não será exatamente a mesma do que foi até agora. Mas uma coisa é certa: somos (ou estamos) demasiadamente frágeis… Continue Lendo “Frágeis, demasiadamente frágeis…”
