Bolsonarismo médico: longe do fim, infelizmente

Os médicos brasileiros – nem todos, mas com certeza aquela maioria diretamente influenciada pelos dirigentes dos Conselhos Federal e Estaduais de Medicina – foram sem dúvida cúmplices das ideias bolsonaristas sobre a pandemia, aí incluídas o receituário de cloroquina e ivermectina e a rejeição às medidas de isolamento. O DF não escapou disso, lamentavelmente.  Mas agora a situação parece estar mudando. Ou não? Com efeito, a semana que passou foi marcada pelas eleições dos conselhos regionais. No geral, as chapas de situação, dominadas pelo conservadorismo bolsonarista e com direito a muito uso da máquina, se saíram vencedoras em todo o Brasil. No entanto, aqui em Brasília, a chapa de oposição conseguiu a vitória, mesmo sob fortes restrições impostas pela comissão eleitoral situacionista. Seria esta uma guinada incipiente nas orientações políticas desta categoria historicamente conservadora? No meu entendimento, é muito cedo para afirmar algo assim, mesmo que estejamos diante de uma transição geracional e de marcante incremento da quantidade de médicos no país. Aqui no DF, é bom lembrar, o CRM apoiou integralmente as diretrizes do CFM quanto ao uso da cloroquina, sem qualquer evidência, mesmo tendo sido confrontado por um abaixo assinado com grande quantidade de assinaturas. E certamente por influência de tal movimento de base, surgiu a iniciativa denominada Médicos em Movimento, que passou debater e propor mudanças, agora refletidas na chapa vitoriosa. Sem dúvida, tudo indica que aqui no DF havia marcante insatisfação com a cúpula médica, eternizada no poder graças a experiência acumulada na direção dos órgãos da categoria, além do CRM as associações médicas e sindicato.

Continue Lendo “Bolsonarismo médico: longe do fim, infelizmente”

CRM-DF contra o isolamento: seria cômico se não fosse trágico

Com atuação marcada por silêncio eloquente após um ano de pandemia, que já matou mais de 250 mil pessoas no Brasil e quase 5 mil aqui na nossa cidade, o Conselho Regional de Medicina do DF achou por bem vir a público para trazer sua contribuição à solução do problema. Divulgou, no dia 1º de março último, uma nota pública na qual condena taxativamente as medidas de intensificação de isolamento social determinadas pelo governo local. Para quem vinha sendo acusada de omissão face à pandemia eis um motivo para que tal entidade venha a ser lembrada no futuro. É um retrato do Brasil, por certo, mas por que justamente os médicos de Brasília (ou uma parte deles, seus representantes no CRM), resolve se antepor ao que é hoje resultado de generalizado senso comum, além de consenso científico internacional? Sabe-se lá… Os argumentos dos doutores são frouxos, risíveis. Apelam, entre outras boutades que comentarei a seguir, para a surrada versão dos prejuízos à economia. É reveladora aqui a verdadeira demonstração do DNA de tal inspiração. Já vimos e ouvimos isso repetidas vezes, pela boca do indivíduo que atualmente ocupa a Presidência da República. Seria subserviência? Irresponsabilidade? Ignorância pura e simples? Ou, sem sabe, uma mistura desses três predicados?  

Continue Lendo “CRM-DF contra o isolamento: seria cômico se não fosse trágico”