Os médicos brasileiros – nem todos, mas com certeza aquela maioria diretamente influenciada pelos dirigentes dos Conselhos Federal e Estaduais de Medicina – foram sem dúvida cúmplices das ideias bolsonaristas sobre a pandemia, aí incluídas o receituário de cloroquina e ivermectina e a rejeição às medidas de isolamento. O DF não escapou disso, lamentavelmente. Mas agora a situação parece estar mudando. Ou não? Com efeito, a semana que passou foi marcada pelas eleições dos conselhos regionais. No geral, as chapas de situação, dominadas pelo conservadorismo bolsonarista e com direito a muito uso da máquina, se saíram vencedoras em todo o Brasil. No entanto, aqui em Brasília, a chapa de oposição conseguiu a vitória, mesmo sob fortes restrições impostas pela comissão eleitoral situacionista. Seria esta uma guinada incipiente nas orientações políticas desta categoria historicamente conservadora? No meu entendimento, é muito cedo para afirmar algo assim, mesmo que estejamos diante de uma transição geracional e de marcante incremento da quantidade de médicos no país. Aqui no DF, é bom lembrar, o CRM apoiou integralmente as diretrizes do CFM quanto ao uso da cloroquina, sem qualquer evidência, mesmo tendo sido confrontado por um abaixo assinado com grande quantidade de assinaturas. E certamente por influência de tal movimento de base, surgiu a iniciativa denominada Médicos em Movimento, que passou debater e propor mudanças, agora refletidas na chapa vitoriosa. Sem dúvida, tudo indica que aqui no DF havia marcante insatisfação com a cúpula médica, eternizada no poder graças a experiência acumulada na direção dos órgãos da categoria, além do CRM as associações médicas e sindicato.
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