A (de)formação médica no Brasil cobra seu preço

Leio no site da UOL matéria que trata de tema ao qual é dado, penso eu, pouca importância atualmente na mídia: a formação médica. Intitula-se A formação médica vira entrave ao cuidado mais próximo da população e é de autoria da jornalista Bárbara Paludeti, da UOL em Brasília (ver link abaixo). Entre outras constatações, aponta que a proverbial má qualidade da formação médica no Brasil tem servido de obstáculo não só à oferta adequada de serviços como à própria gestão do cuidado no SUS. Um dos problemas apontados pelos entrevistados na reportagem é o de que em vez de médicos preparados para resolver os problemas da população nas portas de entrada do sistema nos postos de saúde estão profissionais mal formados, que muitas vezes apenas repassam açodadamente a demanda para especialistas, com prejuízo geral. Diz um deles, Mauro Guimarães Junqueira, secretário-executivo do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde): “o que estamos recebendo são despachantes, não médicos […] tem médico que encaminha um paciente para o endocrinologista só para prescrever insulina”. Coisas assim significam mais custos para o SUS, além de mais desgaste para os pacientes, sendo problemas estruturais que se agravam com a falta de vagas em programas de residência e a baixa atratividade financeira das bolsas. Bem lembra o meu amigo José Gomes Temporão, ex-Ministro da Saúde: “sem gente preparada para cuidar, não adianta reorganizar a rede. A descentralização precisa andar de mãos dadas com a formação e a valorização do trabalho em equipe”, para assim oferecer resposta adequada e inadiável às mudanças contemporâneas na saúde da população, como o envelhecimento e o aumento das doenças crônicas. Uma coisa é certa: o Brasil dispõe de tecnologia, conhecimento acumulado e experiências locais avançadas em tal campo. Entretanto, se a questão é avançar qualitativamente, é preciso começar encarar o problema pela base, ou seja, com uma formação médica que valorize a saúde coletiva, o cuidado próximo as pessoas e suas famílias, a base no território.

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Um diálogo sobre a formação médica na atualidade

Há algumas semanas apresentei aqui, junto com Henriqueta Camarotti, algumas reflexões sobre o que seria uma boa formação médica (ver link:  https://saudenodf.com.br/2023/04/04/3809/). Na ocasião, solicitei a alguns colegas com experiência docente em saúde, que manifestassem suas opiniões sobre as propostas apresentadas. Alguns responderam e trago aqui uma síntese de suas generosas participações, sob a forma de um diálogo, que na verdade não aconteceu em tempo real. Assim, vou identifica-los: LC é Luiz Augusto Casulari, da ESCS de Brasília; CL é Carmem Lavras, da PUC de Campinas; AR é Armando Raggio, da Fiocruz de Brasília, somando a isso a participação da própria Henriqueta, do Núcleo de Ciência, Arte, Filosofia e Espiritualidade do CEAM/UnB.

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UnB: meio século de formação médica

Acabo de receber o livro comemorativo do cinquentenário da primeira turma de médicos que se formou na UnB. Material muito bem elaborado, virtual (como, aliás, tudo ou quase tudo hoje deveria ser), organizado pelas mãos competentes de um dos egressos de então, o Dr. Marcus Vinicius Ramos, que também é presidente da Academia de Medicina de Brasília. Não estudei com eles e até conheço algumas pessoas do grupo, mas minha formatura, pela UFMG apenas um ano depois, me autoriza a comentar este evento tão significativo, além de me congratular com estes coetâneos. Meio século de formação e prática médica em outros países, de primeiro mundo, já seria algo muito significativo, mas aqui no Brasil os acontecimentos correspondentes são verdadeiramente alucinantes! Vale a pena se deter sobre o tema, sem maior pretensão de esgotá-lo.

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E a Medicina, a que será que se destina?

Querido Lucas Carvalho, leio nos jornais que você, com apenas 17 anos conseguiu vaga no curso de medicina na UnB. É um feito e tanto. Parabéns!  E seu merecimento fica ainda maior quando vejo que você é filho de uma diarista e de um entregador de bebidas, que é morador de uma remota periferia do DF e que desde a infância já se virava vendendo brigadeiros na escola. E mais: sonhava ser músico e não deixou por menos, hoje é saxofonista profissional! É muita conquista para uma pessoa só. Parabéns de novo! Nem eu nem a maioria das pessoas conhece, de perto, as intempéries e os acidentes de percurso que você deve ter enfrentado para chegar onde está. Então, você quer ser médico… Sem dúvida, é uma boa escolha. Mas talvez eu, do alto dos meus 71 anos e quase 50 de formado nesta profissão, possa lhe trazer alguma informação que você talvez ainda não tenha recebido ou percebido por si só. Ou talvez já o tenha… De toda forma, me desculpe se repito o que você já sabe e chovo no molhado. Continue Lendo “E a Medicina, a que será que se destina?”