Gerente à beira de um ataque de nervos

O que vou narrar a seguir é metade realidade, metade ficção. Reflete acontecimentos que assisti em minha vida de gestor de saúde, mas ao mesmo tempo acrescenta elementos relativos a coisas que não vi, mas sei que existem. Aliás, existem, com certeza, aqui em Brasília também. A heroína é Filomena, gerente de unidade de saúde ambulatorial na atenção básica. Moça esforçada, ela tem muito orgulho do que faz, pois foi selecionada para um curso de gestão em saúde dentre quatro outros concorrentes e foi considerada aluna destacada, sendo a primeira a ser nomeada para a gerência, que exerce já há quatro anos. O que faz Filomena se sentir uma gerente especial é o fato de que, ao contrário da maioria de seus colegas gerentes, ela não tem formação específica na área de saúde, pois é administradora, embora tenha uma longa carreira no setor, como encarregada de faturamento em um hospital durante oito anos, sendo que em tal condição concluiu sua faculdade.

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O mito da administração militar

O político francês Georges Clemenceau teria dito, certa vez, que a guerra seria um assunto demasiadamente sério para ser entregue aos militares. Ele devia entender do assunto, pois foi membro de vários gabinetes franceses e inclusive dirigiu o país, como Primeiro Ministro, em inúmeras refregas com a arquirrival Alemanha, inclusive durante toda a Primeira Grande Guerra. Hoje, em nosso pobre país, à falta de inimigos externos que não sejam apenas fictícios, múltiplos setores da administração pública têm sido entregues a militares, desde simples tenentes até generais estrelados. Um dos apaniguados do governo, este consanguíneo, por sinal, já até declarou que com apenas “um soldado e um cabo”, montados num jipe, seria possível fechar o STF… Isso ainda não se concretizou, felizmente, mas sem dúvida há quem continue querendo algo assim, fazendo até manifestações públicas a propósito. Assim é que no Ministério (agora chamado “milistério”) da Saúde, montou-se uma verdadeira caserna, com “elementos” que receitam, formulam pareceres médicos, se arvoram de sanitaristas – só não assinam nada… Nem na ditadura militar tal coisa aconteceu. Aliás, mesmo os ministros mais xucros na ocasião, todos civis, nunca deixaram de serem assessorados por gente de gabarito, com formação sanitária inconteste. O último ministro da ditadura, Waldir Arcoverde, foi, aliás, um técnico dos mais competentes – e realizou uma boa gestão, assessorado por gente ilustrada, recrutada nas universidades e nas instituições de pesquisa. Mas vamos ao que interessa: esta decantada eficiência dos militares na gestão da coisa pública seria algo de fato comprovado empiricamente? Continue Lendo “O mito da administração militar”