Acabo de receber o livro SUS e Estado de bem-estar social: perspectivas pós pandemia, de autoria de meu amigo Nelson Rodrigues dos Santos, para todos Nelsão, no qual sou citado, com muita honra para mim. Este cara foi e continua sendo um ativista visionário que sempre empregou o melhor de si mesmo para sonhar, nutrir, respirar, viver, enfim as ideias matrizes que resultara na criação do SUS. Antes que alguém deplore os desacertos do nosso sistema de saúde, deixo bem claro: ele é uma solução com problemas, mas jamais um problema sem solução. No livro de Nelsão se resumem três décadas de lutas, feitas de derrotas e avanços, mas fundamentais para se construir um sistema de saúde muito menos excludente do que aquele que vigorava historicamente no país até a Constituição de 1988. E a narrativa não é de qualquer um, mas sim de um ator de primeira linha, um daqueles sujeitos históricos que Brecht chamava de imprescindíveis. Pois bem, tive a honra de escrever a introdução que reproduzo abaixo. E acrescento a narrativa do nosso estimado Gonzalo Vecina Neto, docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo: A saúde é um bem público, não existe saúde privada. Existe o setor privado realizando ações de saúde e buscando ganhar sempre mais. E existe o frágil estado brasileiro capturado pelos interesses do mercado. E existem os utopistas. Este livro é sobre utopias. Que nós iremos enfrentar se as entendermos. Vejam meu texto que figura na “orelha” da capa a seguir.
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Acabo de receber e passo a comentar, Subsídio ao resgate e atualização do SUS constitucional (A luta continua), texto avulso, dentro do bom costume do seu autor, pessoa pouco afeita às burocracias acadêmicas, meu amigo Nelson Rodrigues dos Santos, o Nelsão. Mas antes disso, algumas palavras sobre ele. Em primeiro lugar, ser conhecido por um apelido carinhoso, não pelo nome pelo qual se é conhecido no banco ou no cartório, não deixa de ser um atributo que poucas pessoas obtêm como privilégio ao longo da vida. Exemplos notáveis que me vêm à mente: Pelé, Lula, Betinho, Nonô, Mandela, Chico. Conheço este cara ímpar desde os tumultuados e generosos anos 70. Eu era um jovem médico (ele é apenas um pouquinho menos jovem do que eu) e já ouvira falar da saga daqueles moços que haviam embarcado numa canoa que parecia promissora, a criação do curso de medicina e, quase simultaneamente, da secretaria municipal de saúde de Londrina. E acompanhei também a peleja daquela moçada contra um coronel de plantão, agente da ditadura ali implantado. Embarcar em canoas que pareciam promissoras e depois fizeram água: uma boa imagem para definir a história de toda uma geração que se envolveu com as coisas da saúde neste País. Mais tarde, meados dos anos 80, na euforia da redemocratização, em tempos mais promissores para a saúde, o jovem de Londrina estava agora em Campinas, como Secretário Municipal de Saúde e ali organizou uma reunião de seus pares paulistas. Foi gentil comigo, recém-nomeado Secretário em Uberlândia e praticamente desconhecido no meio, convidando-me para tal reunião. Pode parecer coisa simples e banal, mas foram eventos como este, inéditos até então, que começam a delinear o que viriam a ser, um pouco mais tarde, os conselhos de secretários municipais de saúde. Pouco depois disso, estávamos todos, ainda jovens e cheios de expectativas, na oitava Conferência Nacional de Saúde, em Brasília. Ali nosso personagem circulava ativamente em seu traje cotidiano, camisa branca para fora das calças e sandálias, nos salões e arquibancadas do Ginásio de Esportes, à procura de colegas de todo o Brasil. O resultado foi uma reunião informal, realizada em uma das arquibancadas, com algumas dezenas pessoas presentes, todas ligadas à gestão municipal e assim começou a nascer o Conasems, apesar da singeleza e informalidade daquele momento. Ali fizemos um pacto de organizarmos ao máximo à nossa base para levarmos no ano seguinte, em Londrina a proposta da criação de um organismo nacional de SMS. Dito e feito!
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