Da violência nos serviços de saúde

[Texto em parceria Flavio Goulart e Henriqueta Camarotti]

Lê-se no Correio Braziliense (e não o é a primeira vez que se ver este tipo de notícia) que pacientes irritados com a demora no atendimento na UPA do Recanto das Emas depredaram a unidade, desencadeando também uma briga com vigilantes que tentavam conter o tumulto. O saldo foi de portas quebradas, equipamentos jogados no chão, gritaria e desespero, com um segurança agredindo um homem que supostamente segurava no colo uma criança autista. Um ou dois dias depois disso, ouço notícia na CBN sobre a agressão sofrida por uma professora, por parte da mãe e da avó de uma criança, dentro da sala de aula de uma escola pública aqui no DF. Diriam alguns que isso é o resultado do acúmulo de falhas que não só tais estabelecimentos, mas os serviços públicos como um todo apresentam, despertando a justa ira da população. Outros, entretanto, responsabilizariam os próprios usuários, que seriam incapazes de compreender as dificuldades dos serviços e mesmo a lógica de atendimento, partindo para a agressão física contra pessoas que estão ali para ajudar. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Acontecimentos assim exigem um mínimo de reflexão, principalmente por serem repetitivos, sem perder de vista a necessária isenção de ânimo. Vamos lá…

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Qualidade no atendimento em saúde é possível também no serviço público

História verídica (e comum pelo Brasil a fora). Um senhorzinho chega para consultar em uma unidade de saúde do interior. Saiu da roça onde mora às quatro da madrugada, em carona de caminhão, conseguindo chegar ao posto três horas depois, sendo atendido só por volta das três da tarde. Não almoçou, apenas comeu uns biscoitos de polvilho que uma das Agentes de Saúde gentilmente lhe ofereceu. Quando indagado se havia gostado do atendimento, disse que não tinha queixas, porque em momentos anteriores havia feito o mesmo périplo e saíra do posto de saúde no final da tarde sem conseguir atendimento. Desta vez, disse ele alegremente, lhe ofereceram até biscoito. Isso seria um atendimento de qualidade ? Pelo visto, para alguns, como aquele pobre cidadão, sim. Mas o certo é que uma das queixas mais frequentes dos usuários dos serviços do SUS diz respeito à baixa qualidade no atendimento, seja relativa ao ambiente onde os cuidados acontecem, à falta de informação, à demora da espera, às carências materiais ou às maneiras como as relações pessoais são conduzidas.

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De baratas, banheiros, avisos e espéculos – o que realmente importa em uma Unidade de Saúde?

Conforme nos revela a Agência Brasil (ver link ao final) o Conselho Federal de Medicina acaba de divulgar um levantamento realizado por suas instâncias regionais (CRM), relativo a visitas que ocorreram entre 2014 e 2017 a 4,6 mil unidades de saúde, incluindo aquelas onde funcionam unidades básicas de saúde (UBS) e equipes de saúde da família (ESF). O cenário é de fato assustador, marcado por problemas de infraestrutura, condições de higiene precárias e falta de equipamentos básicos. Do total de estabelecimentos visitados durante o período, 24% apresentavam, na data da fiscalização, mais de 50 itens em desconformidade com o estabelecido pelas normas sanitárias. Assim, em nada menos do que 81 unidades de saúde não havia consultório; em 268, não havia sala de procedimentos/curativos; 551 não tinham recepção/sala de espera; 34% dos locais vistoriados não possuíam sanitário adaptado para deficiente; 18% não tinham sala de expurgo/esterilização; 16% não possuíam sala de atendimento de enfermagem; 13% não dispunham de farmácia ou sala de distribuição de medicamentos. E vai por aí a fora… Continue Lendo “De baratas, banheiros, avisos e espéculos – o que realmente importa em uma Unidade de Saúde?”