Saúde, Democracia, Igualdade e Liberdade: reflexões

Uma dia “ele” diz que não manda fechar jornais por que é um “democrata”; no outro avisa que armar a população é garantia da defesa da “liberdade”. Democracia e liberdade: santos nomes tomados em vão… Mas o que realmente significam? Mas não pretendo me dedicar no presente texto, tão despretensioso como um cão a vagar na tarde, a buscar uma definição de tais conceitos , ou ao menos rever e criticar o que já existe no cenário. Na verdade, estou interessado em esmiuçar a relação entre Saúde e Democracia, coisa que entre os pais fundadores do SUS (acho que posso me incluir entre eles) era dada como relação totalmente biunívoca, ou seja: mais saúde é igual mais democracia e mais democracia corresponde a mais saúde. Como se uma coisa dependesse e fosse capaz de gerar a outra. Como penso que são coisas distintas, sobre as quais não adianta tentar ungi-las com alguma aproximação genérica, teço estas mal traçadas linhas em busca de alguma luz, correndo o risco de que especialistas em ciência política ou sociólogos me julguem atrevido ou incônscio. Mas antes declaro: mesmo não acreditando que exista uma relação direta entre uma coisa e outra, não tenho dúvidas de que continua valendo a pena lutar pelas duas.

Continue Lendo “Saúde, Democracia, Igualdade e Liberdade: reflexões”

A Democracia faz bem à Saúde?

Acabo de ter acesso a um artigo da revista The Lancet (ver link ao final) no qual os autores indagam se este negócio de democracia é realmente bom para a saúde pública. Assim, recorrendo a estimativas de mortalidade por causas específicas e expectativa de vida livre de HIV, além de dados da carga global de ferimentos e fatores de risco, relativos a 2016  e cotejando tudo isso com informações sobre o tipo de regime em uma série de 170 países, foi analisada a associação entre a democratização e a saúde da população , no período de 1980 a 2016. Isso permitiu descobrir que a expectativa de vida adulta livre de HIV melhorou mais rapidamente nos países em desenvolvimento que fizeram a transição para a democracia no último meio século. E mais: que a qualidade da vida democrática, particularmente definida como ocorrência de eleições livres e justas, seria responsável por 22% da variação positiva nas doenças cardiovasculares, 18% nas lesões de trânsito, 17% na tuberculose, 10% no câncer, com frações menores para outras doenças, principalmente não transmissíveis. Isso parece ser mais influente do que próprio PIB, que seria responsável por apenas 11% da variação nas doenças cardiovasculares e 6% no câncer, por exemplo. A “qualidade da democracia” não parece estar associada a aumentos no PIB per capita, mas sim a declínios na mortalidade por doenças cardiovasculares e aumentos nos gastos públicos em saúde. Continue Lendo “A Democracia faz bem à Saúde?”