Coronavirus: o GDF estaria fazendo a coisa certa?

O Governo do Distrito Feral se antecipou nacionalmente, ao decretar isolamento e quarentena desde meados de março. Manifestei-me em contrário na ocasião, achei precipitado, mas depois dei o braço a torcer. Nestes tempos “pandemônicos” mudar de opinião pode ser uma virtude… Pena que para muitos, por exemplo para a mais alta autoridade da República, isso não esteja sob cogitação. Ou melhor, mudar de opinião até que este aí sempre muda, mas sempre para pior… Mas feita a ressalva de que Ibaneis e sua equipe de fato tinham razão, em que pese o desembarque (ou seria defenestração?), neste meio tempo, do Secretário Okumoto, por razões não esclarecidas, cabe analisar, agora com o olhar neutro do cidadão e sanitarista preocupado com a saúde em nossa cidade, como anda a epidemia por aqui, não só em termos da curva do número de casos, como também na razoabilidade das medidas tomadas pelas autoridades. Continue Lendo “Coronavirus: o GDF estaria fazendo a coisa certa?”

Saúde no DF: o Carnaval acabou. E agora?

Não, não vou falar de doenças sexualmente transmissíveis; nem de coronavírus, intoxicação alcoólica, gravidez indesejada ou traumatismos provocados pela ação da polícia ou de gangs carnavalescas. Nada disso. Vou recordar aqui, mais uma vez, algumas das verdadeiras dívidas históricas, que entra carnaval, acaba carnaval; entra década, sai década; entra governo, sai governo, persistem no cenário de nossa cidade. Falo de dívidas sanitárias, porque aqui o espaço (e a minha competência) são pequenos para abordar com algum siso tudo que precisa. Vamos a elas, que estão virando um verdadeira mantra aqui no blog. Mas é preciso insistir, por serem coisas essenciais na saúde pública de nossa cidade, para as quais este governo (e justiça seja feita, os anteriores também) não parecem estar “nem aí”. Continue Lendo “Saúde no DF: o Carnaval acabou. E agora?”

No DF: o SUS que dá certo (e por quê?)

Publiquei há poucos dias um post aqui no blog, no qual chamei atenção dos leitores para aqueles anônimos e modestos personagens, a quem denominei de “Heróis das Quebradas”, que carregam nas costas, no dia a dia, as pontas das cordas do sistema de saúde do DF. Ainda quero falar deles, agora para tentar entender melhor o que significa aquele “dar certo” que coloquei no título da matéria. Na ocasião, minha abordagem foi superficial, pois apenas comentei, assim mesmo de passagem, cerca de duas dezenas de matérias recolhidas no site da SES-DF durante a primeira metade do mês de fevereiro do corrente ano. Mas há muito mais a dizer sobre tal tema, sem dúvida. Este “SUS que dá certo” se refere a conquistas e sacadas de que se orgulhariam ingleses, canadenses e portugueses, por exemplo, cujos países possuem sistemas de saúde realmente bem estruturados. E material bem mais farto e sistematizado sobre isso é o relatório da Mostra de Experiências realizada em 2017 pela SES-DF, reunindo variadas práticas de saúde originadas das unidades ambulatoriais, hospitalares e complementares, além de instituições parceiras e associadas, em nossa cidade. Vale a pena voltar ao assunto, mesmo decorridos mais de dois anos e tendo feito comentários sobre o evento em duas ocasiões anteriores. Mas hoje quero acrescentar um aditivo, que é o seguinte: por que deu (e dá) certo? Continue Lendo “No DF: o SUS que dá certo (e por quê?)”

A desorganização da saúde no DF em sua mais perfeita tradução

Vejo no Correio Braziliense de 18 de junho de 2019 que mulheres de todo o Distrito Federal e Entorno formaram imensa fila no HMIB, na L2 Sul, para se candidatar à instalação de um simples DIU, o Dispositivo Intrauterino, que os bons serviços de saúde mantêm disponíveis para clientela há décadas. A SES-DF anunciou a novidade (?) na semana anterior e isso fez com que centenas de pacientes passassem a madrugada em frente a unidade para conseguir atendimento. Gentilmente um funcionário explicou à reportagem do CB, sem se dar conta, talvez, da desfaçatez de suas palavras: “todas as mulheres que chegaram aqui no período da manhã serão atendidas. As demais devem aguardar atendimento no decorrer dos próximos dias”. Em outras palavras, ao invés de uma lógica ética e humanista, quem manda naquele pedaço é o relógio; ou o calendário. A SES não deixou por menos, “esclarecendo” que todas as mulheres que procurarem a unidade na manhã desta segunda serão acolhidas e avaliadas. Pergunta que não quer calar: só as que vierem pela manhã? E aquelas que virão na parte da tarde? Ou na terça, quarta, quinta ou na semana próxima? Resumo da ópera: isso não é fruto de nenhuma crise econômica, de licitação embargada, de maquinações da indústria farmacêutica, de greve de fornecedores ou de alguma herança maldita. É má gestão mesmo. Uma coisa assim, sem querer vulgarizar, é igual a uma lanchonete que não tem salgados para oferecer a seus clientes. Ou um açougue que não vende carne. Continue Lendo “A desorganização da saúde no DF em sua mais perfeita tradução”

O sonho de Dom Bosco e a saúde em Brasília

Muito se fala até hoje no famoso sonho de Dom Bosco, no qual, supostamente, estaria contemplada uma antevisão de Brasília. Alguns acham que, embora tendo tal sonho existido de fato, ele foi trazido à luz de forma oportunista por assessores de JK, no afã de convencer a Igreja Católica, na figura do Cardeal Primaz do Brasil, Dom Carlos Motta, a apoiar a construção da nova capital, considerando ser o prelado um influente conservador, que apoiava na época a UDN de Carlos Lacerda, engajada em forte campanha contra a construção da cidade. Não deve ser por acaso que os Salesianos, congregação fundada por Dom Bosco, foram agraciados com substancial e já então valorizada gleba de terreno na W3 Sul, onde ergueram colégios e igreja. Mas na verdade, o tal sonho é um primor de imprecisão, ao descrever um sítio situado entre 15 e 30 graus de longitude, sem precisar se ao Sul ou ao Norte, e sem determinar a latitude, ou seja, que poderia se materializar em lugares tão diferentes como a América Central, o Norte da África, a Indochina, ao Norte. Ou então, ao Sul, numa faixa de terra onde estariam a Bolívia, parte do território brasileiro, todo o Sul da África e boa parte da Austrália (onde, aliás, uma capital planejada também foi construída). Mas o sonho do Santo erra mesmo é quando descreve uma “grande civilização, Terra Prometida, onde correrá leite e mel”, além do mais, de uma “riqueza inconcebível”. Certamente não foi aqui que isso veio a acontecer. Na saúde, inclusive.      Continue Lendo “O sonho de Dom Bosco e a saúde em Brasília”