Hoje não vamos falar de Covid… Tornou-se proverbial a afirmativa que a medicina moderna, com suas máquinas e procedimentos mágicos, nem sempre se faz acompanhar de atenção mais qualificada, em termos humanos, aos pacientes. Tem tudo para ser verdade, mas convém tentar ir um pouco mais fundo em tal questão. Começo por um exemplo pessoal: por esses dias (e por esses caprichos dos jovens médicos que dominam as tecnologias clínicas e querem que seus pacientes sejam revirados pelo avesso diante de uma simples falta de ar) me vi submetido a uma série de exames de imagem do coração, com e sem contraste radiativo, com e sem esforço, com ou sem a minha vontade. Não que eu seja avesso a tais exames – nem de longe! – mas minha ignorância frente a tal arsenal, totalmente impensável em meu tempo de médico, salvo em alguma sessão de cinema ou romance de ficção científica, confesso que me deixa desconfiado e ansioso. Se não em relação à sua eficácia, certamente à sua capacidade de trazer à luz coisas ruins, em outros tempos de detecção impossível. Sabem, quando gente morria nas trevas da mais completa ignorância a respeito do que se tinha ou se deixava de ter e talvez fosse feliz mesmo assim, ou apesar disso? Mas uma vez adentrado a tal cenário de ficção científica, com direito ao ar condicionado siberiano; luzes frias; banheiros de descarga automática e luzes que não precisam ser apagadas nem acesas; aparelhinhos e aparelhões de diversas qualidades; telas de LED de todos os tamanhos pelos quatro cantos; apitos e sibilos eletrônicos perpassando a atmosfera; luzinhas faiscantes por todo lado, tive uma sensação no mínimo estranha, quase uma epifania, qual seja a de que eu não estava me sentindo “objetificado” ou meramente processado por máquinas; ao contrário, eu até me sentia bem no meio daquilo tudo! Por uma razão muito simples…
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