Como já disse Bob Dylan, “People are crazy and times are strange / I’m locked in tight, I’m out of range / I used to care, but things have changed”. Escrevo isso pensando na proliferação das chamadas “clínicas populares”, às vezes incluída como parte de um fenômeno mais amplo de “uberização” da economia, algo que vem acontecendo não só do DF, mas do Brasil como um todo. Uma coisa é certa: tais iniciativas chegaram, sem dúvida, para ocupar o lugar de um sistema público que não funciona ou, pelo menos, que deixa muito a desejar. Uma de suas características seria a oferta de serviços a preço baixo, porém com restrição de cobertura. Com efeito, há uma enorme precariedade no acesso ao SUS e dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o número de pessoas que abandonam os planos de saúde é cada vez maior, seja em busca do SUS ou de outras formas de atendimento. Exatamente entre essas modalidades estão as clínicas ditas populares. Vamos condená-las, sob a pecha de representarem o império privado que quer destruir o SUS? Incensá-las como a verdadeira solução para os problemas de saúde no Brasil? O melhor não seria tentar entender o fenômeno como parte de um grande processo de mudança, para o qual torna-se preciso “não fechar os cenários e nem fugir dos caminhos” como está na canção de Dylan? Continue Lendo “Sobre as chamadas “clínicas populares”: os tempos estão mudando…”
“Uberização” na Saúde: panorama no DF e no País
A verdadeira proliferação das chamadas “clínicas populares” é um fenômeno não só do DF, mas do Brasil como um todo. Aqui elas estão mais presentes nas periferias mais do que no Plano Piloto. Isso não deixa de ser um paradoxo, pois supostamente os que podem pagar estão na zona central e não nas periféricas. Mas isso é apenas aparência… No Plano Piloto as pessoas já possuem acesso aos planos privados de saúde, por razões econômicas. Elas já pagam por isso e não atraíram novos interessados comerciais, como as tais clínicas populares (o próprio nome já diz a que vêm). Já nas periferias, quem depende exclusivamente do SUS está procurando um jeito de relativizar tal dependência, nem que seja mediante comprometimento do orçamento doméstico. Confirma-se assim, mais uma vez, o dito bíblico de Mateus: “Pois a quem tem, mais lhe será confiado, e possuirá em abundância. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado” (25:29). Mas as informações disponíveis sobre a verdadeira fuga dos planos de saúde que vem ocorrendo nos últimos tempos indicam que o fenômeno tende a se alastrar, tanto nas áreas mais pobres como na classe média. Seu ímpeto em conquistar o mercado, associado à utilização de tecnologias de informação de alcance geral, têm levado alguns adversários da ideia a caracterizar o fenômeno como uma “uberização” (embora isso possa ser visto também como um aspecto positivo). Continue Lendo ““Uberização” na Saúde: panorama no DF e no País”
