Da violência nos serviços de saúde

[Texto em parceria Flavio Goulart e Henriqueta Camarotti]

Lê-se no Correio Braziliense (e não o é a primeira vez que se ver este tipo de notícia) que pacientes irritados com a demora no atendimento na UPA do Recanto das Emas depredaram a unidade, desencadeando também uma briga com vigilantes que tentavam conter o tumulto. O saldo foi de portas quebradas, equipamentos jogados no chão, gritaria e desespero, com um segurança agredindo um homem que supostamente segurava no colo uma criança autista. Um ou dois dias depois disso, ouço notícia na CBN sobre a agressão sofrida por uma professora, por parte da mãe e da avó de uma criança, dentro da sala de aula de uma escola pública aqui no DF. Diriam alguns que isso é o resultado do acúmulo de falhas que não só tais estabelecimentos, mas os serviços públicos como um todo apresentam, despertando a justa ira da população. Outros, entretanto, responsabilizariam os próprios usuários, que seriam incapazes de compreender as dificuldades dos serviços e mesmo a lógica de atendimento, partindo para a agressão física contra pessoas que estão ali para ajudar. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Acontecimentos assim exigem um mínimo de reflexão, principalmente por serem repetitivos, sem perder de vista a necessária isenção de ânimo. Vamos lá…

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Da segurança pública em Brasília e no Brasil (Parte II)

Na última semana trouxe aqui uma análise sobre os dados do Anuário da Segurança Pública no Brasil, relativos a esta política pública (ou ao fracasso da mesma…) no país. Foram destacados os dados do Distrito Federal, em termos comparativos com outras unidades federativas, com a ressalva de que o ideal seria comparar nossa cidade apenas com as capitais. Hoje vamos prosseguir, com informações sobre crimes patrimoniais e ataque a vulneráveis, tendo como base o ano de 2022 e a taxa calculada para 100 mil habitantes. Assim, por exemplo, no quesito do roubo ou furto de telefones celulares, o DF conta com um dos indicadores mais elevados do país, acima de 1000 por 100 mil habitantes, junto com o estado do AM, por exemplo, e bem acima do menor valor, que é o do RS, onde não passa de 160. A média nacional não chega à metade de tal cifra. No estelionato por meio eletrônico também nos perfilamos no topo do ranking, acima de 300 por 100 mil habitantes, tendo como companhias SC e ES, versus 189 como média do país. No roubo a residências: 9,7 no DF versus 14,7 no Brasil. A taxa daqui está entre as menores do país. As mais elevadas (acima de 100) estão em AP e RO. Em relação ao roubo a transeuntes, no DF 590,5 x Brasil 247. Roubo (total) 821,5 (DF) x 456,2 (Brasil).

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Taxa de motorização e mortes no trânsito: o caso do DF

O DF possui uma das maiores índices de gente motorizada do país, em torno de 55 veículos por 100 habitantes. Isso gera a afirmativa quase proverbial de responsabilizar tal cifra por possíveis maus indicadores de trânsito por aqui. Nem uma coisa nem outra. O DF é superado em sua taxa de motorização por pelo menos oito estados (SP, RS, PR, SC, GO, MT, MS), aí incluídas máquinas agrícolas, mas mesmo assim não apresenta taxas de mortes por 100 mil habitantes muito elevadas. Neste aspecto da motorização, as taxas muito baixas, como as do AM, AP e PA, por exemplo, se correlacionam a índices de acidentes de trânsito fatais também pequenos, mas não existe, definitivamente, uma correlação linear nisso.  Alguns estados, como PI, CE, MA, PB, SE, AL situam-se abaixo da média brasileira em termos de motorização (42%), mas apresentam taxas de óbitos no trânsito acima da média do país, que é de cerca de 22 por 100 mil habitantes. Em contraponto, estados como MS, GO e MT, por acaso nossos vizinhos na região CO, possuem ao mesmo tempo altas taxas de óbitos (>30) e de motorização (>50).

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