A “Demografia Médica” e o Distrito Federal

O Conselho Federal de Medicina, com o apoio institucional do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, acaba de lançar a versão 2018 do estudo Demografia Médica, com valiosas informações sobre o número e a distribuição de médicos no Brasil, acessível gratuitamente no link referido abaixo. O estudo mais uma vez teve a coordenação do professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Scheffer. Como aspecto principal, demonstra-se que nunca houve um crescimento tão grande da população médica no Brasil num período tão curto de tempo, ou seja, em pouco menos de 50 anos, o total de médicos aumentou num ritmo três vezes maior do que o de brasileiros.

Fica a questão: esse salto não trouxe os benefícios que a sociedade esperaria? A resposta pode ser encontrada parcialmente em algumas das informações trazidas pela pesquisa: (1) é grande a concentração de profissionais nas regiões mais desenvolvidas, nas capitais e no litoral; o Sudeste tem a razão de médicos por 1.000 habitantes 2,81 contra 1,16, no Norte, e 1,41, no Nordeste; (2) o estado de São Paulo concentra 21,7% da população e 28% do total de médicos do País; (3) o Distrito Federal tem a razão mais alta, com 4,35 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 3,55; (4) na outra ponta estão estados do Norte e Nordeste, com o Maranhão (sempre o Maranhão…) tendo a menor razão entre as unidades federativas, com 0,87 médico por mil habitantes, seguido pelo Pará, com razão de 0,97.

Em linhas gerais, o estudo do CFM-CREMESP ainda demonstra que dos quase meio milhão de médicos, há cada vez mais mulheres e jovens entre eles; que forte desigualdade ainda marca a distribuição geográfica dos médicos pelo País; que as capitais têm quatro vezes mais médicos do que os municípios do interior brasileiro; que seis em cada dez médicos no país possuem pelo menos um título de especialista e que apenas quatro especialidades concentram 39% dos especialistas do país. Enfim, que os municípios do Brasil oscilam entre um padrão africano e europeu quanto à distribuição de médicos..
Vamos agora procurar mais informações sobre o Distrito Federal, em termos comparativos com as demais unidades da federação.

Apesar de a média nacional ser de 2,18 médico para cada grupo de mil habitantes, esse indicador difere muito de uma região para outra do País, materializando um quadro de desigualdade na distribuição geográfica medido também entre os estados, as capitais e os municípios do interior.

Entre todas as unidades da federação, o Distrito Federal tem a razão mais alta, com 4,35 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 3,55. Depois de São Paulo (razão de 2,81), o Rio Grande do Sul tem razão de 2,56; Espírito Santo, 2,40; e Minas Gerais conta com 2,30 médicos por mil habitantes. Na outra ponta estão estados do Norte e Nordeste. O Maranhão mantém a menor razão entre as unidades, com 0,87 médico por mil habitantes, seguido pelo Pará, com razão de 0,97.

Assim, quando se compara as taxas relativas de médicos e de população por região (ou estado), as desigualdades são mais visíveis. Por exemplo, na região Sudeste, onde moram 41,9% dos brasileiros, estão 54,1% dos médicos, ou mais da metade dos profissionais de todo o País. Já na região Norte ocorre o oposto: ali moram 8,6% da população brasileira e estão 4,6% dos médicos. No Nordeste vivem 27,6% dos habitantes do País – mais de 1/4 de toda a população – e 17,8% do conjunto de médicos. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, a porcentagem de habitantes é bastante próxima da parcela de médicos.

Se a comparação entre regiões e unidades da federação traz um olhar macro sobre a desigualdade, quando se separam as capitais e as cidades do interior agrupadas por estratos populacionais, as diferenças se destacam ainda mais. No País, as capitais das 27 unidades da federação reúnem 23,8% da população e 55,1% dos médicos.

Em síntese, mais da metade dos registros de médicos em atividade se concentra nas capitais, onde mora menos de um quarto da população do País. A razão das 27 capitais é de 5,07 médicos por mil habitantes. No interior, esse índice é 1,28, ou seja, 3,9 vezes menor.

Sobre as especialidades médicas.

Do total de médicos em atividade no País, 62,5% têm um ou mais títulos de especialista. Por outro lado, 37,5% não têm título algum. São 282.298 especialistas e 169.479 generalistas (médicos sem título de especialista). A razão é de 1,67  especialista para cada generalista.  Isso permite afirmar que o número de especialistas vem crescendo no Brasil, sobretudo em função da expansão de programas e vagas de residência médica. O trabalho permite ver também a distribuição de médicos especialistas e generalistas entre as grandes regiões e pelas unidades da federação.

Na Região Sul, são 2,27 especialistas para cada generalista, enquanto no Nordeste essa razão é de 1,34 e no Norte, 1,06. Nessa última região há praticamente um especialista para cada generalista. Os dados do Centro-Oeste, com quase o dobro de especialistas (razão de 1,93) são influenciados pela presença do Distrito Federal, que tem 2,76 especialistas para cada generalista, maior concentração de médicos especialistas em todo o País.  O Sudeste tem razão de 1,68 especialista para cada generalista, praticamente a mesma taxa do Brasil como um todo, que é 1,67.

Entre os estados, as diferenças são mais acentuadas. Cinco deles, incluindo o Distrito Federal, têm mais de dois especialistas para cada generalista (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná). São Paulo vem logo abaixo, com razão de 1,90. Em todos esses, mais de 65% dos médicos são especialistas.

Na outra ponta, estão Tocantins e Roraima, com mais generalistas que especialistas. Outros 13 estados têm razão inferior a 1,50. Com taxa intermediária, entre 1,55 e 1,78 especialistas para cada médico sem título, estão seis estados, entre eles Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás

Os dados sobre o DF aqui apresentados são apenas comparativos, ou seja, não explicam algumas questões internas da distribuição de médicos nas diversas cidades e regiões. Entre elas, podem ser citadas: a escassez de médicos nas periferias; a ausência quase absoluta, no sistema público, de especialistas em determinadas áreas; as frequentes panes nas escalas de médicos dos hospitais e emergências. Ou seja, há um verdadeiro paradoxo aí, qual seja, uma cidade que tem mais médicos por habitantes do que qualquer outra no Brasil, ao mesmo tempo apresenta deficiências ontensas na oferta de serviços desses profissionais.

Por que isso acontece? Em próxima e breve oportunidade vamos discutir este tema aqui no nosso Blog.

SEJA BEM VINDO! PARTICIPE!

E para saber mais, acesse: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27509:2018-03-21-19-29-36&catid=3

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 respostas para “A “Demografia Médica” e o Distrito Federal”

  1. Muito bem inaugurado o seu blog sobre saúde no DF! Parabéns, Flávio.
    Os dados e a análise esclarecem o que podemos intuir e tocam num dos problemas crônicos da saúde no Brasil. A formacao e atuação do profissional médico desvinculadas do perfil epidemiológico da população.
    Particularizo uma questão: a inexistência ou insuficiência de algumas especialidades essenciais na rede pública de saúde no Distrito Federal.
    Qual a relação entre oferta de serviço especializado e morbidade no DF?
    Qual o perfil da demanda reprimida?

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