Saúde na Mídia/maio 2018: seria o DF um lugar violento?

Tirando a paralização dos caminhoneiros e seus reflexos sobre a saúde de nossa cidade, inclusive a polêmica medida da SES-DF de suspender alguns tipos de atendimento Já comentada antes aqui (veja: https://saudenodfblog.wordpress.com/2018/05/26/como-se-ja-nao-nos-bastasse-o-locaute/ ), o assunto da área da saúde mais frequente na mídia local no mês de maio último foram os acidentes de trânsito. Gente idosa foi atropelada, um bebê foi atirado para fora do carro, as estradas forneceram a sua cota habitual de fatalidades. Mas afinal de contas, seria o DF um lugar realmente violento? O que dizem as estatísticas? O senso comum acredita que a resposta é sim. Mas nem tudo é o que parece. Vejamos…

Levantamento elaborado a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, que consolida as certidões de registro de óbito emitidas no Brasil no local da ocorrência do evento, permite constatar o número de óbitos por 100 mil pessoas, provocados por acidente de transporte em diferentes níveis geográficos do país, por sexo, faixa etária e tipo de óbito – pedestre, ciclista, motociclista e ocupantes de automóvel, ônibus e caminhão. São registrados os óbitos por causas externas, ou seja, decorrentes de acidentes de transporte, tópico que agrupa entre outros acidentes de transporte os acidentes envolvendo pedestres, ciclistas, motociclistas e ocupantes de automóvel, camionete, ônibus, veículos de transporte pesado, triciclo e outros.

De acordo com os dados deste levantamento, Brasília NÃO está entre as capitais brasileiras com maior violência no trânsito. A lista é encabeçada por Teresina, com 55,8 mortos por 100 mil habitantes. Brasília tem a cifra de 19,43. Em situação melhor do que a nossa estão, por exemplo, Curitiba (17,31); Belo Horizonte (13,79); Porto Alegre (11,92); Salvador (6,82) e, pasmem, o Rio de Janeiro, com apenas 3,47 óbitos por 100 mil habitantes.

Existe também uma lista oposta, que mostra as cidades com o trânsito menos letal. Ela é encabeçada pelo Rio, Belém e Salvador e São Paulo ocupando os quatro primeiros lugares.

Em compensação, entre as mortes de crianças no trânsito, a situação do DF é bem menos lisonjeira, estando em terceiro lugar na lista das capitais brasileiras.

Saiba mais: http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-capitais-pelo-indice-de-mortes-por-acidente-de-transito

Um estudo da Escola Nacional de Seguros aponta que perdas na capacidade produtiva, imputáveis à violência no trânsito brasiliense equivalem a 1,09% do PIB, ou seja, um impacto econômico de R$ 2,83 bilhões no ano passado. Essa perda foi derivada das mortes de 287 pessoas, além de outras 128 deixadas em estado de invalidez permanente. O cálculo, que é chamado de Valor Estatístico da Vida (VEV), se baseia no valor que seria gerado pelo trabalho das vítimas caso não tivessem se acidentado. Além disso, o estudo aponta que entre 2015 e 2016, houve redução de 43% na perda do PIB e que no ano anterior, o valor da perda foi de R$ 5,01 bilhões. Ao que parece, esta redução do número de vítimas de acidentes graves está ligada a dois fatores básicos: o aumento da fiscalização (Lei Seca) e a crise econômica, que reduziu as vendas de automóveis e tirou muitos veículos de circulação no país. Ainda assim, o número de vítimas remete a um quadro de guerra e sua grande maioria concentra-se na faixa etária de 18 a 64 anos, ou seja, um grupo em plena produção de riquezas para a sociedade, analisa o responsável pela pesquisa, Claudio Contador. Veja a matéria completa no link abaixo.

file:///C:/Users/FLAVIO/Desktop/MEUS%20DOC%20PRINCIPAIS%20MAI%2017/SAUDE%20NO%20DF%20BLOG/Distrito%20Federal%20perdeu%20R$%202,83%20bilhões%20com%20violência%20no%20trânsito%20em%202016%20-%20Jbr.%20-%20Jbr..html

E em matéria de crimes intencionais contra a vida, qual é a nossa posição? O Atlas da Violência, publicado pelo IPEA em 2017 nos traz respostas interessantes.

Neste aspecto, no período de 2005 a 2015 a situação do DF acompanhou, com pequenas variações, a média nacional, que em 2015 era de 28,9 por 100 mil habitantes. Aqui, 25,5. Mas em compensação ficamos em posição bem melhor do que alguns “campeões” de assassinatos, todos com taxas acima de 40, como CE, SE, RN, PA, GO e AL. O RJ, surpreendentemente, não está entre os primeiros lugares, como, aliás, tem sido noticiado pela mídia, a despeito da intervenção federal ocorrida lá. Existem ilhas de relativa tranquilidade, também, como SC e SP (estado). Os políticos locais, claro, já descobriram isso e alardeiam aos quatro cantos.

É um consolo saber que no período considerado tivemos, no DF, uma redução de tais taxas, em torno de 10 %, enquanto a média nacional foi de acréscimo de 10%, embora com pequena redução entre 2014 e 2015.  No RN houve crescimento da taxa em nada menos do que 232%. Salve-se que puder…

Outro cenário que coloca o DF em situação de relativo privilégio é o das chamadas “mortes por intervenção legal”, ou seja, em confrontos com a polícia. Em 2015, por exemplo, ocorreram no Brasil 942 óbitos (registrados) nesta categoria, dos quais apenas um (01) aconteceu no DF. Ao mesmo tempo, foram 281 no RJ, 277 na “ilha de tranquilidade” de SP, 225 na BA. Nos estados mais violentos AL e CE não correram (ou não foram registrados) óbitos deste tipo, por incrível que pareça.

Saiba mais: http://www.ipea.gov.br/portal/images/170602_atlas_da_violencia_2017.pdf

Quanto a taxas de mortalidade por assassinatos no mundo e no Brasil, nossos 26 por 100 mil nos fazem passar vergonha perto de países como Japão (0,31), China (0,82), EUA (4,88) e mesmo frente a nossa vizinha e rival Argentina (6,53). Mas podemos nos consolar com El Salvador, campeão mundial nesta macabra categoria, com 108 (!) e seu vizinho Honduras (63). O México, tido como país violento, ficou bem abaixo do Brasil, com pouco mais de 16 mortes por 100 mil habitantes (dados de Wikipedia).

 
 
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Uma resposta para “”

  1. Flávio, achei surpreendentes as informações que vc traz. O trânsito de Brasilia tem uma peculiaridade que são as pistas de alta velocidade, o que, provavelmente, aumenta a gravidade dos acidentes. É isso? A letalidade dos acidentes é maior aqui no quadradinho? Pergunto também: a crise econômica retirou carros da rua inclusive no DF. A olho nu, parece que brotam sempre mais carros!
    No mais, que inveja de Japão, China, usa e Argentina!

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