Neste exato ano de 2018, o Sistema Nacional de Saúde Britânico, o NHS (National Health Services) completa 70 anos de existência. Por coincidência, o nosso SUS completa 30. E é provável que a formulação que deu origem ao sistema de saúde da Capital Federal do Brasil, ainda em construção na ocasião, esteja completando 60 anos. O que tem uma coisa a ver com a outra (e a outra)? Isso vale alguma digressão. Vamos a ela.
O SUS, claramente, teve sua matriz filosófica inspirada no NHS, disso ninguém duvida. Mas na ocasião havia outras mensagens no cenário, por exemplo, vindas de Cuba, do Canadá, da Itália, além em outros países. Mas com certeza o NHS era o farol, até porque o mesmo já estava completando sua quarta década de existência.
No Reino Unido, tudo começou em 1948, depois da destruição provocada na Grã Bretanha pela Segunda Grande Guerra, que não só matou milhares de jovens, como devastou cidades inteiras e colocou em colapso a economia do país. Tudo isso levou as autoridades a criar um sistema social que recompensasse pelo menos uma parte das perdas civis, mas a história é bem mais antiga. A formação do NHS se deveu, em grande parte, à pressão popular, dado o fato de que a classe dos trabalhadores tinha forte capacidade de pressão na ocasião, com demandas claras por um sistema de saúde no qual todos pudessem ter acesso.
Já o sistema de saúde do Distrito Federal tem, em sua origem, um Plano Diretor de Saúde de autoria do médico Bandeira de Mello, que o propôs antes mesmo da inauguração da capital. Nele, havia a instância de gestão denominada Fundação Hospitalar (FHDF), integrada por estruturas hospitalares de diferentes níveis de complexidade, além de uma rede de serviços básicos em todo o território, capaz de oferecer assistência àquela população de 500 mil habitantes que se julgava que o DF ia ter. É notória a influência do NHS no mesmo.
Algumas diferenças entre o NHS e o SUS, em que pese ocorrerem semelhanças também, devem ser destacadas.
Em primeiro lugar, falar em um “movimento social” certamente seria mais apropriado na Inglaterra, onde havia uma população mais mobilizada pelo esforço e pela destruição provocada pela guerra. E que era um movimento com ampla penetração social e política, inclusive no Parlamento, que o tornou poderoso o bastante para realizar uma mudança legal e normativa como poucas vezes se viu no mundo. No Brasil, em que pesem as boas intenções dos formuladores e o seu sucesso relativo em implementar as medidas reformistas, a movimentação foi mais significativa em setores da burocracia pública e acadêmica, sem tantas repercussões no seio do operariado.
Em termos de contextos, naturalmente, as diferenças são mais marcantes. o Reino Unido acabava de sair de uma guerra destruidora. O Brasil de uma ditadura não menos massacrante. Mas o prejuízo para a sociedade certamente não poderia ser comparado. Além disso, bem ou mal, o regime militar em seus estertores começava a “ceder seus anéis para não perder os dedos”, pelo menos na saúde, como foi o caso da ampliação do atendimento da Previdência Social a outros setores, inclusive de trabalhadores rurais, “sem carteira assinada”, além da própria instituição das Ações Integradas de Saúde (AIS), precursoras do SUS, em 1983.
No DF, no princípio, tudo funcionou tudo muito bem. A cidade tinha governos centralizadores e era bem menor, sem a pressão demográfica do Entorno. Não existia, também, a arena de interesses corporativos e particularistas que mais tarde veio a ser a Câmara Legislativa do DF. Era o ambiente ideal para o florescimento de sum sistema hierarquizado e planejado em seus fluxos, como queria Bandeira de Mello, seguramente sob influência do NHS. Mas com o tempo muitas mudanças aconteceram,,,
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E acesse também os links seguintes:
http://outraspalavras.net/outrasaude/2018/02/19/dois-sistemas-duas-crises/
O trabalho de ROSEN citado no texto é o seguinte:
ROSEN, G., 1994. Uma história da Saúde Pública. São Paulo/ Rio de Janeiro: Editora Unesp/ Hucitec/ Abrasco.
