Preocupações de uma mente sem noção…

Dizem que Bolsonaro ganhou de presente, não se sabe de quem, um incrível computador de última geração, o qual, multiconectado, seria capaz de ler até pensamentos e também de informar ao usuário, em tempo real, o estado geral de sua popularidade. Nosso Átila do Vale da Ribeira, claro, se regozijou com o mimo, e se pôs logo a testá-lo, após perpetrar cada uma de suas habituais iniciativas.

Assim, após fazer elogios a Brilhante Ustra, seu guia intelectual e espiritual, considerá-lo herói nacional e exemplo a ser seguido, foi direto ao aparelho para ver os efeitos disso. Teve o auxílio de Carluxo, que naquela família é quem entende dessas coisas. Mas logo se decepcionou, ao ver que seu próprio Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, era mais popular do que ele. Assim, teve que demiti-lo de imediato. Precisou também mandar um ordenança à farmácia mais próxima do Palácio da Alvorada, eis que o dileto zero-qualquer-coisa, bem ali do seu lado, entrara em crise de babar e ranger os dentes, além de se estrebuchar no assoalho.

Ficou atento ao que acontecia no país e no mundo e assim logo teve um insight. Ao ser indagado por um dos integrantes da manada que normalmente se junta na porteira do Palácio, a respeito do que deveria ser feito diante dos milhares de mortos por Covid no Brasil, julgou ter chegado a sua hora de brilhar. E proferiu aquele proverbial: “e daí, eu não sou coveiro”. Correu ao computador, mas logo se decepcionou ao perceber que um de seus ídolos, Boris Johnson, na Inglaterra, adquirira a doença e se convertera à racionalidade, defendendo agora que as pessoas deveriam usar máscaras e se cuidar, sem apelar a nenhum remédio milagroso. E o mundo todo só falava dele agora. Por sorte, Carluxo neste exato dia tinha ido a uma festa rightrave, com seu amiguinho Leo Índio.

Mas o nosso mandotário principal, como se sabe, não desanima nunca e se esmerou em busca de nova oportunidade. Resolveu, assim, dar um pitaco sobre a política de saneamento básico no pais, o que, no seu caso fisiológico específico, equivale à saúde mental. E assim saiu-se com aquela sugestão de que “as pessoas fizessem cocô dia sim, dia não”. Correu para sua tela predileta e não deu outra: o mundo agora se curvava diante da jovem primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que de uma tacada só conseguira renovar seu mandato e, de quebra, obter resultados espetaculares no controle da pandemia em seu país. Carluxo entrou em parafuso novamente e o papai teve, ele mesmo, que lhe ministrar uma dose extra de calmante, por supositório, para que o efeito se fizesse mais rapidamente.

Mas nem assim esmoreceu o Messias. Em discurso público, de improviso (embora sua cabeça não improvise nunca, pois se atêm apenas a ideias fixas), fez a célebre declaração de que “devemos deixar de ser um país de maricas”. Neste mesmo momento, Evo Morales voltou à Bolívia nos braços do povo e a eleição americana deu vitória a Biden, não a Trump. “Tá oquei”, pensou Bolsonaro, ao não ver na tela a notícia com que sonhava. Na próxima eu acerto e me vingo!

E assim, sem maior esforço, porque isso nele é coisa natural, um verdadeiro dom, saiu-se com aquela antológica “eu não vou tomar vacina. E ponto final!”.

Desta vez, a máquina travou. Mas só por alguns momentos, pois um novo software de inteligência artificial havia sido introduzido no programa da mesma. E completada a pausa que seu sistema ao operacional impusera, informou: “sim presidente, há alguém mais falado do que Vossa Excelência”. “Quem?” Digitou furibundo o Presidente do Brasil, quase demolindo o teclado.

E a máquina, neutra como só as máquinas sabem ser, e agora mais inteligente ainda, no ato finalizou seu veredicto: “uma senhora de Eldorado Paulista, no Brasil, que tem o mesmo sobrenome de V. Excia” – expondo, ato contínuo, uma imagem de tal pessoa.

Mas é a MINHA MÃE“, rugiu o filho, com os olhos injetados pelo ódio!  

Zero-coisa e seu pai, ao que consta, tomaram 30 comprimidos de cloroquina cada um, talvez tentando se livrar de tanta falta de sorte. Entretanto foram socorridos e curados com uma boa lavagem gástrica – sem precisar de clister.

Moral da história: nenhuma… Mas uma coisa é certa: figuras assim e os que as apoiam, merecem desprezo. nada mais.

(Piadinha dos anos 60, tendo como personagens Jânio Quadros e um espelho mágico. Nenhuma originalidade, portanto; confesso que eu apenas adaptei,)

 ***

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE COVID-19…

O DF tem hoje, dia 19 de dezembro de 2020, 242.299 casos confirmados da doença, sendo 899 casos novos e 16 mortes nas últimas 24h, com 4.123 mortes no total. A situação dos leitos específicos é a seguinte: na rede pública, 267 UTI ou leitos com respiradores, 67,95% ocupados; na rede privada, 229 UTI com 80,73% de ocupação. Dados fornecidos pela Assessoria da deputada Arlete Sampaio, que também é médica sanitarista e vem fazendo um trabalho excelente de divulgação relativa à pandemia.

Já o Governador Ibaneis, depois de aparecer em foto acompanhado do Ministro Militar da Saúde e especialista em “logística” (seja lá o que isso signifique na novilingua atual) e de um menestrel breganejo, num alegre grupo sem máscaras ou outro tipo de proteção, segue a reboque de seu líder, o Presidente da República, rejeitando o exemplo de outros dirigentes mais competentes e ciosos de suas responsabilidades.

***

Um amigo e leitor me adverte: se este blog é de Saúde no DF, porque quase toda semana se fala aqui de Jair Messias? Talvez ele tenha razão, mas de fato está impossível pensar qualquer coisa no Brasil, ainda mais se for sobre saúde, sem que nos turve a mente com a quantidade assombrosa de malfeitos que nos ronda, da lavra da malfadada figura ou de seu entorno consanguíneo, verde oliva ou civil. Convenhamos: já passa da hora de admitirmos que Bolsonaro é sem dúvida um psicopata criminoso e que é preciso decidir quem (e como) se vai parar esta figura nefasta.  

***

Ponto final agora digo eu, em 2020, pelo menos! Voltarei na segunda quinzena de janeiro.

***

Uma resposta para “”

  1. Flávio, você e o “Messias” me fizeram sentir saudades do Jânio,quem diria! Pensando bem, o Collor até que não foi tão ruim… Voltando à pandemia, onde houver vacina vai faltar seringa. Aqui em Portugal a vacinação começa no dia 27 de Dezembro, primeiro para profissionais de saúde e depois em lares de idosos. 22 milhões de vacinas para 10,5 milhões de habitantes. Abraço.

    Curtir

Deixar mensagem para Eduardo Pinheiro Guerra Cancelar resposta