O DF possui uma das maiores índices de gente motorizada do país, em torno de 55 veículos por 100 habitantes. Isso gera a afirmativa quase proverbial de responsabilizar tal cifra por possíveis maus indicadores de trânsito por aqui. Nem uma coisa nem outra. O DF é superado em sua taxa de motorização por pelo menos oito estados (SP, RS, PR, SC, GO, MT, MS), aí incluídas máquinas agrícolas, mas mesmo assim não apresenta taxas de mortes por 100 mil habitantes muito elevadas. Neste aspecto da motorização, as taxas muito baixas, como as do AM, AP e PA, por exemplo, se correlacionam a índices de acidentes de trânsito fatais também pequenos, mas não existe, definitivamente, uma correlação linear nisso. Alguns estados, como PI, CE, MA, PB, SE, AL situam-se abaixo da média brasileira em termos de motorização (42%), mas apresentam taxas de óbitos no trânsito acima da média do país, que é de cerca de 22 por 100 mil habitantes. Em contraponto, estados como MS, GO e MT, por acaso nossos vizinhos na região CO, possuem ao mesmo tempo altas taxas de óbitos (>30) e de motorização (>50).
Assim as estatísticas de trânsito mostram que em tal quesito o DF está situado em situação até confortável, junto com SP e RS, possuindo, ao mesmo tempo, alta motorização e relativamente baixa taxa de óbitos. Isso indica que o número de veículos circulantes por população, por si só, não constitui um indicativo seguro de menor ou maior propensão aos acidentes de trânsito fatais.
É preciso ir adiante, portanto, levando em consideração o fator tempo. Vejamos como se pode fazer comparações relativas ao DF quanto a isso, com os demais estados vizinhos da região CO, por exemplo. Na média da região e nos demais estados, a tendência observada ao longo dos anos 2002 a 2014, foi a de coincidirem taxas altas de mortes e de motorização, em torno de 25 e 50, respectivamente. Mas o DF foge disso nitidamente, mostrando que mesmo com o aumento expressivo de sua frota a redução de mortes também ocorreu simultaneamente, com menos de 20 óbitos por 100 mil e 50% de motorização. Pode não ser (e não deve ser…) um dado alvissareiro em comparação com países mais desenvolvidos, mas certamente já é algo que honra nossa cidade.
Mas vale lembrar: o índice de mortos em relação à população (por 100.000 habitantes) é essencial para analisar a evolução de acidentes fatais, sendo o parâmetro utilizado pela OMS. Costuma-se comparar este índice com a taxa de motorização (número de veículos por 100 habitantes), pois o principal fator de agravação da mortalidade é o crescimento da frota de veículos. Contudo, o índice de mortos em relação à frota de veículos é muito menos usado, pois a redução desta não garante a redução do número de mortos, havendo duas variáveis a considerar, quais sejam, acidentalidade e taxa de motorização, índice que não seria adequado para alertar sobre o crescimento da mortalidade no trânsito, especialmente quando a frota de veículos aumenta rapidamente. Um exemplo entre os estados brasileiros: PI teve ao mesmo tempo um crescimento muito rápido da frota de veículos e também do número de mortos
Em relação a tais variáveis, morte e motorização, a publicação da OMS (2015) Global status report on road safety 2015, fornece dados sobre a segurança do trânsito e alguns países do mundo com mais de 100 milhões de habitantes. São comparados o número anual de mortos no trânsito, o número de habitantes e o número de veículos, através de dois índices: a taxa de motorização (número de veículos por 100 habitantes) e o índice de mortos (número de mortos por 100.000 habitantes).
A densidade demográfica é também incluída na estimativa, para mostrar a diversidade dos casos e por refletir também a densidade da rede a ser mantida e fiscalizada. Assim, quanto maior é o país, menor é a densidade da rede e mais difíceis são a manutenção da infraestrutura e o gerenciamento do trânsito – que naturalmente tem enorme implicação no Brasil.
Então, de acordo com a publicação referida acima, em termos de segurança, o Japão lidera tendo, de longe, o menor índice de mortos: 4,7, na frente dos Estados Unidos com 10,7. A comparação destes dois países mostra a importância da dimensão geográfica do país: os japoneses são 127 milhões num território de 378.000 km2 enquanto os 320 milhões de americanos têm 9,7 milhões de km2. O Japão tem 336 habitantes por quilômetro quadrado e os Estados Unidos dez vezes menos.
Voltando ao DF não custa lembrar dos dados sobre mortes no trânsito, pouco lisonjeiros, por sinal, que apresentei aqui neste blog na última semana. Vai uma síntese dos mesmos.
- A redução da mortalidade por acidentes de trânsito tem diminuindo no Brasil, mas entre as capitais que que apresentaram maior redução, destacam-se, em primeiro lugar Vitória, com 66%, seguida de Fortaleza, Recife, Aracaju, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, todas com reduções acima de 50%. Já Brasília tem este indicador de 40% apenas.
- Quando se analisa as taxas de mortalidade no trânsito por 100 mil habitantes, a posição do DF é comparativamente ruim, ou seja, entre as 12 capitais que ainda mostram tal taxa com dois dígitos. Os nossos 10,3 (óbitos/100 mil) ainda são “poucos”, perto dos 24,8 de Palmas; 19,9 de Teresina e 16,9 de Boa Vista. Mas é bom lembrar que a maioria das capitais, ou seja, 16, já estão com um dígito de mortalidade, cabendo citá-las aqui por questão de justiça.
- Aparentemente, cidades com maiores PIB per capita apresentam melhores resultados, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. Brasília certamente estaria incluída ai, mas as taxas que apresenta não se coadunam com tal afirmativa.
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