Um Encontro Marcado

Temos um encontro marcado neste próximo domingo, dia dois de outubro. Não entre você e eu ou um grupo de amigos, mas com valores muito mais profundos, como Liberdade, Dignidade, Esperança, respeito aos diferentes, confiança entre as pessoas – a busca da Verdade, enfim.

Não vamos simplificar ou minimizar o desafio que o país tem pela frente, como já o fazem muitos, cada qual olhando para o seu lado ideológico: não se trata apenas de uma luta do bem contra o mal, mas sim de uma decisão que irá afetar o futuro de nós mesmos, de nossos filhos e netos, além de toda a população do Brasil, principalmente sua parcela mais sofrida.

Amigos, esta mensagem não parte de um militante partidário e não pretende fazer ninguém mudar de opinião; ela serve apenas para convidar a uma reflexão. Igualmente, não falo aqui, desta vez pelo menos, do tema da Saúde, eis que os problemas e desafios presentes no cenário são muito mais amplos, passando pela próprio noção de Cidadania, nos termos que nos foram legados pela Constituição de 1988.

Amanhã teremos um embate, não apenas entre candidatos e partidos. Muito mais do que isso, os dilemas envolvidos são graves e profundos, por termos que escolher entre uma proposta de manutenção da Democracia, com todos os seus possíveis defeitos e virtudes, contra uma rejeição descabida e não fundamentada a ela.

Aos 74 anos de idade já vivenciei a situação de rejeição e de consequente supressão da Democracia. Tive irmãos e amigos presos e torturados; tive colegas de faculdade assassinados, nos anos de chumbo de 60 e 70. Nós brasileiros passamos por anos a fio em estado de medo e de insegurança. Fui testemunha de um discurso falso, que falava de crescimento econômico, progresso social e de que havia liberdade no país. Conheci muitos que apoiaram o regime militar em seus primórdios e se arrependeram de tal atitude, mas já tarde demais.

A atual ameaça à Democracia representa a negação de tudo que conseguimos de melhor: uma sociedade em movimento, que aos poucos vai construindo seu caminho com tolerância, inclusão, respeito ao próximo e principalmente aos diferentes.

Vejo que podemos perder algo que já tínhamos alcançado, mesmo aquém do necessário. Não podemos entregar o destino de nosso país a mãos irresponsáveis e despreparadas, em nome de nossos filhos e netos e mesmo daqueles que, iludidos hoje, pensam que a solução de nossos problemas está no arbítrio e na violência.

Um homem é o que o seu passado indica. E contra este representante da obscuridade, da truculência selvagem e do atraso que é Jair Bolsonaro os indícios são fortes demais, por ele ter sempre se mostrado uma pessoa violenta, despreparada, que recusa o debate de ideias, que não respeita as mulheres, os membros do Judiciário e até mesmo os seus próprios pares no Parlamento, desacata as leis do País, desqualifica os que dele são diferentes e ainda faz a apologia das armas, das notícias falsas e do justiçamento feito pelas próprias mãos dos cidadãos. Ele não respeita, aliás, o próprio povo brasileiro e é totalmente despreparado não só do ponto de vista intelectual, mas também mental e moral. E de quebra, ele é o maior responsável pelos maus indicadores econômicos do país, pela ruptura de nosso tecido social e também pelos mais de 700 mil mortos pela pandemia de covid.

Já estamos cansados de passar vergonha perante o mundo. Não é aceitável termos chegado à situação presente, depois de vermos superados tantos desafios políticos e sociais, mesmo que ainda haja muito caminho pela frente para sermos de fato um país civilizado, a correr o risco de um retrocesso tão grande como seria a reeleição de uma pessoa de tal feitio.

Não sou petista e sempre fui crítico dos erros do PT. Mas isso não impede que eu tenha as preocupações que acabo de expor e que faça minhas escolhas para o próximo domingo baseadas em tais reflexões.

Já considerei os bolsonaristas apenas como portadores de um equívoco intelectual e ideológico, mas hoje vejo que aqueles que persistem em suas crenças e no apoio a tal indivíduo, trazem consigo, de fato, um enorme problema de caráter. E contra isso confesso que não sei como lidar.

Esta mensagem é dirigida a pessoas de bem, na verdadeira acepção desta expressão, não naquela que o referido personagem usa para justificar suas fixações necrófilas.

Devemos todos nos repugnar e sentir ameaçados caso as eleições de domingo venham a dar fôlego a um tipo primitivo, tosco e autoritário como o ex-capitão Jair Bolsonaro.

Que tenhamos todos muita luz e bastante sorte no dia dois.

3 respostas para “Um Encontro Marcado”

  1. Flavio Goulart, muito verdadeira e profunda tua mensagem. Ela expressa não só a sintese da realidade brasileira mas principalmente o compromisso coletivo que temos para iniciar um novo caminho, de comprometimento de uma Nação, de um Povo, que sofrido de tantos equivocos, investe mais uma vez na TRANSFORMAÇÂO.
    A mudança, o renascimento de uma nova chance de uma sociedade justa e pacífica não depende de um dirigente, de um lider iluminado, depende de todos nós, de absolutamente de todos nós. De nossos pensamentos, sentimentos e ações; da nossa postura enquanto pessoa solidária e comprometida com a transformação, e enquanto grupo humano que definitivamente acredita e se comporta dentro da VONTADE de sermos melhores, justos, solidários e cotidianamente militantes de uma CAUSA fraterna.
    Este domingo representa um primeiro passo na direção da Esperança. Esperança no sentido de ESPERANÇAR, como diz Paulo Freire, focar e agir na direção do que acredita, de forma incançavel e inarredável do principio humanista e do bem coletivo.
    “… Há homens que lutam toda a vida, estes são imprescindiveis”
    Henriqueta Camarotti

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  2. Flávio, subscrevo seu texto, mas deixo uma mensagem de perplexidade: algo como 1/3 dos brasileiros não pensam assim. Isso me preocupa demasiado. Como explicar isso de forma calma e reflexiva, sem cair no bate-boca da insanidade?
    Essa parte do Brasil é fruto de alguma interpretação que vale a pena entender? Por que o processo de desenvolvimento político e econômico produziu tal fruto?

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