Ideias para adiar (ou evitar) o fim do SUS

A frase que dá título a este post é na verdade um plágio. A versão original fala de “fim do mundo” e seu autor é o mineiro Ailton Krenak, liderança indígena pertencente à etnia que lhe dá o sobrenome. Para quem ainda não o conhece, ele surgiu para o mundo em 1987, quando fez um pronunciamento na Assembleia Nacional Constituinte, em defesa dos direitos indígenas, com o rosto pintado com tinta preta de jenipapo. Na obra em foco ele denuncia a ideia de humanidade como algo separado da natureza, criticando com ironia sutil o modo de viver adotado pelos brancos, arrancados que foram de seus grupamentos originais para serem “jogados nesse liquidificador chamado humanidade”, abrindo mão da liberdade do contato e da harmonia com a natureza, deixando de respeitá-la como mãe. As tais “ideias para adiar o fim do mundo” referem-se ao fato de que os indígenas sempre usaram sua criatividade e sua poesia para resistir à barbárie da dita “civilização” que lhes foi imposta, com a suposta integração a uma espécie de clube selecionado, dentro do modo branco e europeu de ser. Foi assim que, segundo ele, os indígenas lograram postergar o Apocalipse, através de sua resistência continuada, fazendo com que sobrevivam hoje no Brasil cerca de 250 etnias e 150 diferentes idiomas. “A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos”, diz ele. E na Saúde, o que se pode oferecer de resistência para vencer o holocausto anunciado, que para muitos brasileiros já chegou? Antes de prosseguir nessas divagações inspiradas nos escritos de Krenak, cabe lembrar uma de suas frases, e tentar ser mais modesto: “Não é a primeira vez que profetizam nosso fim; enterramos todos os profetas”. Nada de profecias ou fantasias desejosas, portanto, pretendo me ater à realidade…

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Um caso de amor com o SUS

Fugindo à regra deste espaço, trago aqui hoje alguém “de fora”, um convidado. Mas não é qualquer um. É um cara que veio da Itália e que há trinta anos acompanha (e contribui para) o desenvolvimento do SUS. Conhece a nossa realidade e a de nosso sistema de saúde como poucos. Aliás, ele é um daqueles estrangeiros que é capaz de amar e compreender mais o nosso país do que nós próprios o somos.  E não é só por ser casado com uma brasileira, não! Veio para o Brasil num processo de cooperação técnica da Itália, nos anos 90, e a ele retornou outras vezes, como técnico da OPAS.  Ele está se aposentando na OPAS e compartilhou com seus amigos daqui e alhures uma verdadeira declaração de amor ao SUS e a este pobre país. Renato Tasca é o seu nome. Tenho a honra de tê-lo conhecido há quase 20 anos, de ter trabalhado diretamente com ele em algumas ocasiões e assim ter feito parte de alguns projetos importantes que ele desenvolveu ou articulou aqui. Nada como ler o texto de Renato para se convencer de que o SUS não será, definitivamente, um projeto perdedor ou uma irrealizável utopia. A militância de pessoas que acreditam nele, como Renato Tasca e tantos outros,  sempre fez e continuará a fazer a diferença. Menos mal que sua aposentadoria na OPAS não o retirará de nosso convívio. Continue Lendo “Um caso de amor com o SUS”

Covid-19, no DF inclusive: coragem x covardia; inteligência x estupidez

Tenho tentado mudar de assunto aqui, mas a verdade que desde março não falo de outra coisa a não ser de Covid-19. A frase acima, depois eu explico. A questão do momento é uma tragédia anunciada. Há semanas que já se esperava o pior no controle da pandemia em todo o país, e também aqui no DF. Só aqui neste blog já publiquei pelo menos meia dúzia de posts alertando quanto a isso. E a má notícia chegou a galope, apocalipticamente: o Distrito Federal acaba de assumir, a partir de 28 de julho pp, a liderança de mau desempenho no combate à pandemia no País. É a primeira vez que isso acontece, desde que o acompanhamento presente está sendo feito, ou seja, em 15 de abril. Somos seguidos pelo estado do Rio de Janeiro, Roraima, Goiás e Alagoas. Honrosas  companhias…
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Covid-19: Pilatos e Iscariotes no comando?

PILATOSBoas práticas, sérias e responsáveis no controle da atual pandemia existem! Nem tudo é a mixórdia que se vê aqui no DF e em grande parte do país. Em dois posts passados tive a oportunidade de comentar os acertos verificados não só no Uruguai, mas também em diversas localidades brasileiras, como São Caetano do Sul, Belo Horizonte, Pelotas, Lagoa Santa, na cidade de Ceilândia, aqui no DF, além do estado de Mato Grosso do Sul e da Zona Norte da Cidade do Rio. Há muitos outros lugares que estão tomando medidas acertadas como essas, certamente, porque a irresponsabilidade e a insensatez são, felizmente, ingredientes não uniforme e “democraticamente” distribuídos no Brasil. Usando a linguagem bíblica, que alguns apreciam (da boca pra fora) nos dias de hoje, podemos dizer que nem todos os mandatários políticos lavam suas mãos, à moda de Poncio Pilatos, e nem todos, também, traem seus cidadãos, como Judas Iscariotes. Sem esquecer de Herodes, é claro. Já o presidente, como se sabe, faz uma coisa e outra, além de propagandear medicamento ineficaz e perigoso. Mas o que seria fazer a coisa certa na situação pandêmica atual? Continue Lendo “Covid-19: Pilatos e Iscariotes no comando?”

A atenção básica é essencial no controle da Covid-19, no DF e em toda parte (mas sem informação não há solução…)

A OPAS – Organização Panamericana de Saúde, representação nas Américas daquela mesma Organização Mundial da Saúde que Trump rejeita, com a devota imitação de seu admirador tropical, todavia segue incólume no Brasil e vem organizando uma série de debates on-line (pois afinal estamos, ou deveríamos estar em quarentena…), inclusive com a participação do público, sobre o protagonismo da atenção primária à saúde no enfrentamento da atual pandemia. São apresentadas e debatidas experiências de diversas partes do Brasil, inclusive daqui do DF. Tentei levantar dados, pelo menos quantitativos, sobre o estado atual da Atenção Básica em nossa cidade, mas nem no site da SES-DF, nem no do Ministério da Saúde está sendo possível encontrar este tipo de informação. Isso deve ser bem uma demonstração do apreço e da valorização que se dá no momento atual a esta ferramenta que no mundo todo representa um inequívoco fator de sucesso no controle da pandemia. Conheça a seguir algumas das experiências já apresentadas e discutidas na referida programação da OPAS, dentro de uma iniciativa chamada, muito apropriadamente, aliás, de APS Forte no SUS. As apresentações e debates sobre estes seis casos poderão ser vistos no link ao final. Continue Lendo “A atenção básica é essencial no controle da Covid-19, no DF e em toda parte (mas sem informação não há solução…)”